Faz muito tempo que não choro. Eu bem que poderia comemorar o feito, mas a verdade é que às vezes eu gostaria de jogar tudo para fora, expulsar cada lágrima que fica presa do lado de dentro. Infelizmente, não dá. Quase sempre o choro não vem, mesmo que a tristeza seja permanente.
Já me perguntei qual é o peso disso. Quer dizer, quanto pesa cada lágrima que insiste em não sair? Esse choro todo fica aqui, acomodado, ocupando espaço. São sentimentos que deveriam ter sido externados, mas que acabaram se acumulando e então tudo se transformou em tensão pura. Eu posso sentir meus ombros rígidos carregando um fardo que eles mal suportam. Shakespeare bem disse que chorar é diminuir a profundidade da dor, e eu concordo em absoluto. Então, quando a gente não chora, que tamanho a nossa dor tem?
Não é preciso ir fundo para saber que reprimir qualquer tipo de emoção resulta em algo negativo para o organismo. Chorar é fazer faxina na alma. É restabelecer a ordem, manter o interior em equilíbrio. Choramos porque queremos dizer alguma coisa, porque a água salgada que borra os olhos escapa com o intuito de descarregar a nossa adrenalina. Descobri esses dias que a incapacidade de chorar pode estar diretamente relacionada às crises de asma. Se for assim, eu estou fadado a morrer de olhos secos.
Acho que é por isso que escrevo. Tem pessoas que pintam. Algumas outras bordam. Tem quem desenhe, atue, cante, nade. Alguns preferem xingar no trânsito. A verdade é que a gente sempre encontra uma brecha para expulsar aquilo que urge no nosso interior. Eu me desfaço nas palavras, mancho o papel com a tinta da caneta e o ato acaba servindo como estanque para a dor. Meu choro é minha palavra.
Já a minha mãe é o contrário: ela chora o tempo todo. Com histórias emocionantes de participantes de reality shows, com um filme de fim do mundo que fomos assistir esses dias, ou até mesmo com um comercial de margarina. Sabe... Eu acho lindo. Eu acho lindo quem expressa. Meu pai, mais contido, eu vi chorar uma única vez durante toda a minha vida. Foi lá atrás, quando a Daiane dos Santos fez a sua performance de ginástica ao som de Brasileirinho. E esse é o meu presente: pais que choram de felicidade, que emprestam as suas lágrimas diante da conquista dos outros.
Queria ser assim.
Eu lembro de quando era criança e a música do Capital Inicial tocava na rádio: "o que você faz quando ninguém te vê fazendo? Ou o que você queria fazer se ninguém pudesse te ver?". Bem, hoje eu sei a resposta.
Chorar, chorar...