

Quando decidi matar a rainha da Festa da Uva, achei a ideia incrível. O evento já completava mais de 80 anos e eu não conseguia entender como ninguém tinha pensado nisso. Em questão de um curto tempo, tudo estava esquematizado: minutos antes de receber a sua coroa, a rainha seria encontrada morta no banheiro dos Pavilhões da Festa da Uva, abrindo espaço para a mais importante investigação policial de Caxias do Sul até então. Mesmo receoso, coloquei o plano em prática: eu matei a rainha. Isso em um livro, é claro.
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Automaticamente pensei estar virando o Osama Bin Laden da Serra gaúcha. Lembro dos olhares curiosos e até mesmo interrogativos que recebi durante todo o período de divulgação. Eu me perguntava se Agatha Christie, meu grande espelho, recebia a mesma reprovação por matar homens e mulheres em Londres. Porém, com a ideia de transformar Caxias do Sul em cenário para um romance policial, percebi as possibilidades de aproximar o público jovem do nosso maior evento. Dia desses, a estudiosa e historiadora Cleodes Maria Piazza elogiou o livro. Posso esperar mais aprovação do que isso?
Desde o seu lançamento, mais de 5 mil estudantes de Caxias e região já trabalharam o livro, e se engana quem pensa que o resultado são provas de múltipla escolha. O resgate cultural e histórico feito a partir de teatros, maquetes, apresentações, cartazes e mobilizações que chegam a envolver toda uma escola me fazem acreditar que eu consegui fazer o que eu nunca fiz dentro de sala de aula: trabalhar a maior Festa da região. Para a minha mãe, eu deveria virar uma espécie de aliado das embaixatrizes, quem sabe o embaixador da ala infanto-juvenil da Festuva. Mas isso é só coisa de mãe mesmo.
"A rainha está morta" deu tão certo que o segundo livro da série foi um assassinato no edifício mais alto do estado, o Parque do Sol. Em meio ao atual brainstorm de onde se passará o terceiro volume, ainda penso que as pessoas nem sempre vão entender os nossos propósitos. Eu, que tenho o costume de não me arrepender de nada, hoje sou grato por ser questionado diversas vezes: "não foi você que matou a rainha?". E, mesmo que não compreendam o exato motivo, a resposta é sempre uma: "sim, fui eu mesmo".