Não há nada mais difícil no mundo do que mudar um hábito ruim. E nada mais necessário. Os bons resultados provêm de um esforço contínuo, aceitando eventuais fracassos, mantendo uma intenção de persistência ao longo dos anos. O cérebro gosta de repetição e só conseguimos aderir ao novo depois de exaustivo treino. Por isso é tão difícil livrar-se dos vícios. O controle desaparecerá do seu radar. “Eu posso parar quando quiser”, dizem os resistentes em reconhecer o poder de sua presença em nossos dias repletos de estímulos. Totalmente enganoso.
Existem processos mentais que, uma vez instalados em nós, ganham excessiva força e se perpetuam. E então, adeus liberdade. Desde bem jovem busquei ampliar essa consciência. Há tentações de variadas ordens e se conduzir por elas é abdicar da capacidade de escolher com lucidez. Como elas trazem recompensas imediatas, a tendência é nos convencermos de que vale a pena deixar-se levar.
Na adolescência, sobretudo, vemos pessoas desejosas de experimentar algo diferente, acreditando ser possível parar logo adiante. Raramente vemos acontecer. Movidos pela curiosidade, são seduzidos pelos efeitos agradáveis advindos da ingestão de determinadas substâncias, por exemplo. Quando percebem, geralmente é tarde demais. A luta para manter a autonomia mental deve começar bem cedo.
A sociedade do capital, da maneira como está organizada, cria uma série de armadilhas para nos entregarmos passivamente ao consumo. Atrelam a felicidade à entrega ao prazer que precisa se renovar constantemente, só mudando os objetos. Jogos, sexo, substâncias lícitas e ilícitas.... E, o menos falado, mas igualmente ruim: a manutenção de conexões emocionais carregadas de submissão e violência. Tudo para suprir as carências e a vontade de angariar um pouco de atenção.
Vemos por aí homens e mulheres racionalmente inteligentes sucumbindo a esses propósitos que nos diminuem e travam a autonomia. Recuperar o comando é uma das maiores finalidades da existência. Muitas das vitórias obtidas na minha vida cobraram uma rígida obediência e a aceitação de que certos fracassos fazem parte desse investimento na saúde emocional. Podemos nos transformar em inimigos de nós próprios se entregamos as rédeas aos instintos e não aos bons costumes. Valho-me dessa palavra por entendê-la como um pilar essencial da trajetória humana. Uma única vez pode ser o início do que se perpetuará para sempre.
Tenho dedicado bastante tempo para entender os mecanismos promotores dessas fissuras dentro de nós. Não pretendo abdicar do poder de decisões conscientes em prol de um breve e fugaz contentamento. O lado bom dessa história é poder juntar as nossas forças na sedimentação de virtudes e práticas corretas para higienizar uma época que pode ser definida pela capacidade de converter o supérfluo em mercadoria de valor. As boas escolhas fazem parte do empenho individual, apartadas do senso comum. Atrelo o alcance deste ideal à manutenção da disciplina e da vigilância permanentes.
Todo triunfo sobre si mesmo é um louvor à inteligência.