
Com ajuda do telescópio espacial James Webb, cientistas encontraram no planeta K2-18 b um dos sinais mais promissores até agora na busca por vida fora da Terra.
As observações revelaram a presença de duas substâncias químicas raras na atmosfera, localizado na constelação de Leão, a cerca de 124 anos-luz do nosso Sistema Solar.
Trata-se dos compostos dimetil sulfeto (DMS) e dissulfeto de dimetila (DMDS), gerados na Terra por organismos vivos. O estudo foi conduzido por uma equipe da Universidade de Cambridge e publicado na revista Astrophysical Journal Letters.
Embora os pesquisadores alertem que não se trata de uma prova definitiva de vida, o achado representa um forte indício de bioassinatura, sinais químicos associados a processos biológicos.
— Esses são os primeiros indícios de um mundo alienígena possivelmente habitado — afirmou Nikku Madhusudhan, principal autor da pesquisa, à BBC.
O que é o planeta K2-18 b?
Descoberto pela sonda Kepler em 2017, o K2-18 b é classificado como um planeta "sub-Netuno", com cerca de 2,6 vezes o tamanho da Terra e 8,6 vezes sua massa.
Ele orbita a cada 33 dias uma estrela anã vermelha, menor e menos brilhante que o Sol.
Sua órbita está localizada dentro da chamada "zona habitável", onde há possibilidade de existência de água líquida.
O planeta é um candidato ao que a ciência chama de "mundo hycean" — uma categoria teórica de planetas cobertos por oceanos, com atmosfera rica em hidrogênio e temperaturas favoráveis à vida microbiana.

Por que a descoberta é importante?
A principal novidade está na detecção dos gases DMS e DMDS que, na Terra, são produzidos por fitoplânctons, especialmente em ambientes marinhos.
De acordo com Madhusudhan, a concentração desses compostos no K2-18 b foi registrada em níveis milhares de vezes superiores aos encontrados em nosso planeta.
Além desses compostos, o James Webb já havia identificado metano e dióxido de carbono na atmosfera do exoplaneta, o que seria a primeira vez que moléculas baseadas em carbono foram observadas em um planeta dentro da zona habitável.
Próximos passos
Apesar do entusiasmo, a equipe científica reforça que os resultados precisam ser confirmados.
A detecção atual apresenta uma margem de erro estatístico de 0,3% — considerada baixa, mas não suficiente para cravar a existência de vida.
Segundo os pesquisadores, será necessário repetir os experimentos com diferentes instrumentos e ampliar a análise teórica para descartar alternativas não biológicas.
— Precisamos repetir as observações duas ou três vezes para garantir que o sinal é real e reduzir a margem de erro. Também é essencial investigar se existe algum mecanismo abiótico que possa explicar a presença desses gases — explicou Madhusudhan.
O Planeta K2-18 b pode ser habitável?
Apesar de estar na zona habitável, ainda não é possível afirmar que o K2-18 b seria um ambiente propício à vida como conhecemos no nosso planeta.
Isso porque, segundo os pesquisadores, o planeta possui uma gravidade muito maior e características atmosféricas que ainda precisam ser compreendidas com mais profundidade.
Mesmo que a vida exista por lá, ela seria, em tese, microbiana e adaptada a condições diferentes das terrestres.
A suposição básica dos pesquisadores, portanto, é de vida microbiana simples, possivelmente semelhante à dos oceanos da Terra, mas em águas mais quentes.
Exoplanetas
Desde os anos 1990, mais de 5,8 mil exoplanetas já foram descobertos pela Agência Espacial Norte-Americana (Nasa). Eles são definidos por serem planetas que orbitam uma estrela que não é o Sol, ou seja, estão localizados fora do Sistema Solar.
O K2-18 b se destaca justamente por reunir condições atmosféricas e térmicas favoráveis à vida e por permitir observações em trânsito — quando passa na frente de sua estrela, do ponto de vista da Terra.
Isso facilitaria, portanto, a análise de sua atmosfera a partir da luz captada pelos telescópios espaciais.
— A humanidade se pergunta há milênios se estamos sozinhos no universo. Talvez agora estejamos a apenas alguns anos de descobrir a resposta — disse o astrofísico.