Vou ensinar algo revolucionário, que pode mudar a vida de muitos. É relativamente simples, só exige um pequeno treino para descondicionar a mente. É o seguinte: se alguém faz a narrativa de uma determinada situação, referindo-se aos seus sentimentos, evite, a todo custo, responder com a frase: “E comigo, então!” Tem sido um comportamento padrão, reforçado pela necessidade de nos colocarmos em primeiro plano. Será que em tempos idos os seres humanos tinham a tendência a se sobrepor à fala dos outros com uma autorreferência? É notório o aumento exponencial nos últimos anos. Talvez motivado pela incapacidade de ouvir a exposição de dores e alegrias alheias. Chega a ser quase divertido de se observar. A impressão é a de que o interlocutor deixa de absorver o que está sendo dito. Ele simplesmente aproveita o hiato na explanação para garimpar, em si, uma situação de maior relevo, segundo sua perspectiva individual, evidenciando ser mais desafortunado ou privilegiado do que o ser diante dele.
E comigo, então!
Ao fazer uma observação pessoal queremos expressar algo relevante para nós, claro. É uma espécie de alívio temporário partilhar fatos ou emoções. A verdadeira tarefa é a de simplesmente acolher.
Gilmar Marcílio
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