Vale para crianças, jovens e adultos. Se você pretende polir sua educação, prepare-se: será inevitável passar por diversos traumas. A civilização só se tornou viável através de uma longa contenção dos instintos primitivos. E, acima de tudo, da aptidão em explorar corajosamente a liberdade advinda disso. Só assimilamos algo e o incorporamos na medida em que conseguimos lidar com os limites dos demais. É custoso, mas o caminho é incontornável para quem pretende fazer uma revisão de sua postura no mundo. É imprescindível.
Um ato de inteligência é nunca proferir esta frase tão corriqueira, principalmente se já estivermos instalados na maturidade: “Não tenho mais idade para isso”. Sério? Em estando vivo, as chances continuam iguais, independente de juventude ou proximidade do fim.
Essa conduta relaciona-se a um certo esgotamento, como se a aprendizagem pertencesse a uma época em que o vigor físico nos empurra para a frente. A consequência é uma sucessão de mudanças automáticas, sem a necessidade da longa tarefa de revisão das crenças pessoais.
Vamos levar alguns tombos nada bonitos de se ver ou experimentar. É assim. Há uma ligação entre a habilidade de resistir e o que está acomodado dentro de nós. O cérebro funciona no sentido de economizar energia. As repetições são bem-vindas. Mas, cuidado, também podem significar estagnação.
Então, atente: os maiores confrontos acontecerão em relação a si próprio. Faz parte do propósito analisar as atitudes, a linguagem e os comportamentos incessantemente. E preparar-se para se frustrar bastante. É um processo do qual não se pode escapar se há a intenção de avanço pessoal. Crianças devem ser retiradas do algodão e expostas desde cedo à realidade cheia de confrontos que as espera. E o trabalho de criar uma proteção ao se defrontar com situações complexas trará, em última instância, força e poder interior para enfrentar as adversidades.
A dor impacta, mas pode ser condutora de ampliação da consciência. Esbarrar em obstáculos é reconhecer o espaço do outro. A posse imediata pode se revelar uma falsa riqueza, pois os desejos costumam ser mais valiosos antes de se concretizarem. A memória do sofrimento nos ensina a evitar determinadas experiências.
Os embates, por sua vez, mudam a nossa percepção, ressignificando a convivência em sociedade. E aqui talvez se situe algo fundamental para compreender a geração de adolescentes de agora: para eles é duro se confrontar com o que vai além das suas vontades individuais. Depois passa, mas protegê-los em excesso pode ser prejudicial, como temos visto muito por aí.
A filosofia trata desse tema capital. Uma valiosa lição será encontrada em Kant: eu sou livre quando faço o que não quero, mas preciso. O crescimento raramente está na acomodação, mas na capacidade de atravessar o difícil até naturalizá-lo. Primeiro vem o esforço, em seguida, a recompensa. É a lei da vida.