Tento recordar onde li esta frase. O que sei é que ela deve ter me impactado naquele momento, pois a anotei e ainda guardo na carteira. No papel que o tempo desbota, leio: “Não desista fácil, nem insista para sempre.” Vale para tudo na vida: trabalho, namoros e casamentos, amizades. Estamos imersos em um paradoxo, nestes tempos cada vez mais líquidos: tudo nos é oferecido, e por ser tão abundante, acabamos nos apegando a quase nada. Se não está funcionando, o caminho mais inteligente é optar pelo descarte, pois investir no duvidoso é sinônimo de não saber aproveitar a ocasião. O acúmulo de experiências passou a ser uma espécie de credencial: que seja rápido, mas intenso. Está fora de qualquer possibilidade cultivar a lentidão como qualidade. Ninguém mais tem paciência para se entregar a conta-gotas. Serve o exemplo: uma personagem da romancista Jane Austen, usufruindo seus dias no campo, tendo diante de si uma ou duas oportunidades de descobrir um parceiro amoroso, tinha todo cuidado para que isso desse certo. Cada fala ou gesto era estudado criteriosamente, pois representava o reacender da chama ou a desistência definitiva. Um comportamento assim reflete, acima de tudo, os códigos morais e sociais de uma época. Lá as interdições ditavam o tom das aproximações. Hoje tudo é possível e desejável. Nossa chance de ser feliz é muito maior. Se agirmos com parcimônia, no entanto.
Opinião
Gilmar Marcílio: começo, meio e fim
O acúmulo de experiências passou a ser uma espécie de credencial: que seja rápido, mas intenso
Gilmar Marcílio
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