Maternidades americanas convidam pessoas com disponibilidade de tempo para a prática voluntária de uma atividade que tem se mostrado altamente benéfica. Elas passam algumas horas do dia nas unidades neonatais, onde se encontram crianças com alto grau de vulnerabilidade. Durante períodos de 15 a 20 minutos, com intervalo de uma hora, esses frágeis bebês são acariciados suavemente por mãos adultas. O resultado é espantoso: todos, sem exceção, apresentam melhora acelerada em seu estado de saúde. Ganham peso, sua respiração normaliza e respondem muito melhor aos medicamentos que lhe estão sendo ministrados. O toque humano devolve vida a seres que praticamente já não estavam mais ligados a ela. Acompanhando no transcorrer dos anos seu crescimento, pesquisadores constataram terem se tornado adolescentes e adultos mais bem-sucedidos, profissional e afetivamente, do que a média. Receberam doses de amor em grande quantidade, forjando dentro de si uma espécie de reserva afetiva para ser gasta ao longo de seus dias.
Se receber esse contado no início da existência faz tão bem, é mais do que certo que trará ganhos exponenciais em fases futuras. O que temos visto, no entanto, é que esse privilégio parece estar reservado a quem apresenta determinados problemas. A longa convivência parece nos dispensar dessa ação salvadora. Não costumo ver casais maduros ou em provecta idade permitindo-se esse contato epidérmico com constância. Preferem traduzir o amor com presentes, quanto muito. Sem contar que a sociedade não os estimula à prática desses exercícios que depuram a sensibilidade e o gosto pelo que é sensorial. Vemos enrijecer não só as articulações, mas também a nossa capacidade de esboçar gestos que alcancem o outro e minimizem as carências inerentes a todos nós. Se fôssemos mais propensos à expressão amorosa, é certo que nosso corpo adoeceria menos. Muitas vezes procuramos por simulacros nos consultórios médicos e nas farmácias, esquecendo o rico manancial que se apresenta bem aqui, ao nosso lado.
Felizmente, desde cedo aprendi o valor terapêutico que o abraço promove. Sou quase profissional neste quesito. Sei dizer mais do meu amor estendendo as mãos do que me valendo de palavras. Adoro a temperatura morna e a maciez com às quais a natureza nos presenteou. Sou um perdulário, não economizo em algo que se prolifera quanto mais é dispendido. Não me atenho a formalidades. Acho a intimidade uma conquista espetacular e me dedico a vivenciá-la cotidianamente. Nem vou falar do beijo, que para mim pertence quase à esfera do sagrado. Seria difícil viver num lugar onde a expressão do amor precisasse prescindir até do contato físico. Essa rigidez está excluída do meu código de comportamento. Abro os poros para receber o sopro que emana dos que estão ao meu lado. A morte não me surpreenderá com este tipo de arrependimento. Gastei todo o estoque que estava à minha disposição.
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