Uma amiga querida completou 80 anos. É uma das mulheres mais exuberantes que conheço. Mas, ao mesmo tempo, mantém a discrição como um traço fundamental de sua personalidade. Não se exibe e não se esconde: é o que é, sem a necessidade da aprovação alheia. Uma vizinha me conta que nunca a viu depositando o lixo em frente ao apartamento onde mora sem estar de salto alto e maquiada. De preferência envolta em um robe de seda. Ao encontrá-la, recentemente, contou-me esta novidade: está namorando. O homem tem 45 anos e, em suas palavras, é a segunda loteria amorosa com que a vida a presenteou. Revelou-me o fato com a maior naturalidade, como quem comunica que irá viajar ou fazer um curso de bordado. Nem deu a chance de me espantar, se esse fosse o caso. Não era. Nela tudo é espontâneo, e em nenhum momento conjecturei haver algum tipo de interesse neste relacionamento. Até porque está longe de ser milionária. Tem o suficiente para não se privar do que aprecia. O resto conquista com sua simpatia e capacidade de ver o mundo destituída de preconceitos. É livre porque deixa os outros serem livres do jeito que querem e conseguem. Coloca em prática o que muitos reservam para a imaginação.
Opinião
Gilmar Marcílio: luz e trevas
“Só os muito amargos ceifam o que os desagrada.”
Gilmar Marcílio
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