Meus olhos são convidados a inaugurar o dia todos os dias. O vento da manhã nos diz que tudo é vivo e participa continuamente da criação. Interesso-me cada vez menos pelas grandes especulações metafísicas. Quero é estar com quem gosto, partilhando o pão e o maravilhamento que é estar com a alma e as vísceras perfeitamente saudáveis. Leio páginas avulsas de filosofia, fragmentos de poemas, para não deixar que a sensibilidade enferruje. Mas aprecio mesmo é sair às ruas, sentir o perfume do instante que morre assim que o percebo. Marco Aurélio e Sêneca, meus mestres espirituais, refletiram sobre o esquecimento. Ocupamos este planeta brevemente, como tudo o mais, mas temos a obrigação de acolher a felicidade e permanecer atentos. Carregamos uma bagagem de memórias que nos sustentam quando tudo parece outonal, pronto para pertencer novamente à terra. São elas que nos ligam à cadência do eterno. Quase não frequento templos e minhas orações não são ritualísticas. Mas deixo o coração se vergar diante de qualquer manifestação de afeto. Na casa da amiga Maria de Fátima, uma doce mineira que enche minha vida de sabedoria e delicadeza, há uma pequena placa que diz: “Ao menor sinal de amor, retribua.” Ah, se soubéssemos por isso em prática, quantas dores perderiam a possibilidade de nascer.
Opinião
Gilmar Marcílio: gentileza
Entregar-se ao mistério é também uma maneira de orar..
Gilmar Marcílio
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