A capacidade de se colocar no lugar do outro, de tentar compreender as razões que o motiva a agir de determinada forma, sempre se constituiu num admirável exercício espiritual. Você vai encontrar essa exortação em quase todos os livros basilares das grandes religiões. Ela se constitui na possibilidade mais nobre de sair do eu para alcançar um princípio de entendimento da alteridade. O que advém dessa prática é a possibilidade de trocar o julgamento pela compreensão. Colocar a empatia no centro dos nossos propósitos tem, a meu ver, o mesmo valor de uma oração. Mais do que pedir, estamos nos colocando em disponibilidade, acolhendo generosamente os sentimentos e as motivações alheias. Não é fácil e muitas vezes desistimos em prol da manutenção de nossas verdades. Creio que as guerras e, numa perspectiva individual, os conflitos emocionais, perderiam muito de sua razão de ser se nos esforçássemos para isso. Quando não nos aprofundamos, somos incapazes de romper com os condicionamentos. A sociedade moderna está moldando o homem para que ele se preocupe apenas com a sua satisfação pessoal. O desejo tomou o lugar do altruísmo. Agindo assim, nosso olhar só alcança a redoma em que nos colocamos.
Sociedades antigas e livres deste estigma do egoísmo conseguiram colocar em prática esse propósito de vida. O que se vê, na perspectiva do tempo, é que emergem como as mais felizes, abastecendo-se do acolhimento, aceitando o que difere dos códigos vigentes. O certo é que não se pode estabelecer princípios universais. Partindo-se desta constatação, nada garante que minha visão seja a melhor. O desafio é aprender a ouvir, internalizar e somente depois fazer o escrutínio e as comparações. O filósofo australiano Roman Krznaric passou mais de dez anos estudando o tema. Diz ele: “A primeira maneira de difundir a revolução da empatia é por meio da conversa. Precisamos nos tornar jardineiros da empatia, envolvendo troca de lugares em salas de aula, bares, igrejas, cozinhas e na internet.” Mas, cuidado: não confunda isso com um like ou uma foto sua que foi curtida. Narciso continua à espreita.
Em outra passagem, aponta para o excesso de interiorização proposto pela psicanálise. Escarafunchar incessantemente dentro de nós faz com que nos esqueçamos de ver com simpatia quem está ao nosso lado. Ficamos também tentados a maximizar nossos problemas, em detrimento do que se passa com o vizinho, os amigos, a esposa. Preferimos permanecer na ignorância do que move a ação humana. E ela é praticamente infinita. Conclusão: mire-se, mas sem exageros. Gosto da ideia de estudar culturas diversas, entender seus rituais, o que comiam e vestiam, como pensavam. Essa curiosidade me força a uma pluralidade de ideias. O suposto inimigo pode ser apenas alguém que não conhecemos. Se paro e escuto suas motivações, ele será a sombra do meu universo. Cabe a mim projetar luz sobre ele.
Leia também
Edu Falaschi traz a Caxias turnê comemorativa do disco "Temple of Shadows", do Angra
Agenda: Caxias recebe as bandas Test e Deaf Kids, no sábado
Escritora caxiense Maya Falks lança "Poemas para ler no Front", neste sábado, no Zarabatana Café