Conheço uma senhora que exemplifica à perfeição o quanto uma mulher pode ser machista. E a ela fazem coro muitas outras. Os costumes evoluem, mas há quem continua com a mentalidade colada na Idade da Pedra. Não perde uma chance de mostrar sua compaixão por quem não conseguiu alcançar, em sua opinião, o ideal máximo da existência: casar. E ter um status reservado somente a quem vive aos pares. A palavra “avulso” lhe causa arrepios. Não duvido que inclua em suas orações a súplica por uma mudança de destino a essas desvalidas. Seu severo julgamento costuma poupar os representantes do sexo masculino. Até arrisca dizer que alguns são espertos, optando pela caminhada solo. Um certo paradoxo, mas que só confirma a distorção quando o assunto é o estado civil da humanidade. O mais estranho é que vive às turras com o marido. As brigas só não ganham uma dimensão mais belicosa porque sabe que concordar significa dar um fim ao embate. Mesmo assim, considera-se uma privilegiada e não duvido que veja como um defeito de caráter o fato de alguém envelhecer sozinho. Em nenhum momento considera a possibilidade disso ser uma opção. A liberdade e o direito de ir e vir sem dar explicações a alguém pode ser uma escolha sensata e não digna de pena. Mas mesmo quando não verbaliza, lê-se em seu rosto a expressão: “Coitada, ela é solteira.” Todos os males e infortúnios certamente advirão dessa triste e miserável condição em que se encontra. No mais, é uma ótima pessoa.
Opinião
Gilmar Marcílio: "coitada, ela é solteira"
Uma aliança no dedo nunca foi garantia de felicidade
Gilmar Marcílio
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