Dias atrás um livrinho, assim mesmo, no diminutivo, caiu em minhas mãos. É um livro de Krenak chamado A vida não é útil. O li numa sentada ao sol. E senti o que ele escrevia percebendo a erosão da vida em mim mesma. Somos atravessados pela realidade, pelas angústias, pelo Outro, pelos sonhos e desejos, pela modernidade, pela tecnologia, pelo digital, pelas ansiedades e enquanto consumimos tudo isso, somos automaticamente, consumidos por isso tudo. Parece que estamos devorando a vida e tudo por onde passamos. Devoramos as relações amorosas com raiva e violência. Devoramos os amigos com inveja. Devoramos o mundo sujando-o, destruindo a natureza e desrespeitando o planeta. Devoramos até mesmo a ideia de Deus enganando a si e aos outros aparentando sermos pessoas de bem quando na verdade vivemos nos porões mais escuros plenos de afetos perturbados. Krenak fala sobre a possibilidade de pisarmos na terra de forma tão suave que pouco depois de nossa passagem, não seria possível rastrear nossas pegadas. Mas não é isso que fazemos. Nossas pegadas estão cada vez mais profundas e denotam o rastro de uma humanidade completamente desorientada.
Fim do Mundo
Ficamos com o mais podre de nós mesmos, o ódio, a inveja, a raiva
Perdemos a capacidade de pensar, de se preocupar, de imaginar, de narrar, de sentir, de amar, de se autonutrir
Adriana Antunes
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