O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apresentou na sexta-feira números atualizados da população nacional quanto a faixas etárias e sexo. São novos dados divulgados do Censo realizado no ano passado. Merece singular atenção, pelo impacto em uma série de aspectos da vida nacional, o acelerado envelhecimento no país. É uma mudança de perfil significativa e que ocorre de forma ainda mais rápida no Rio Grande do Sul.
No Brasil, no ano passado, 10,9% da população tinha 65 anos ou mais. Em 2010, percentual de idosos era de 7,4%. No Estado, o estrato grisalho é o mais representativo no país. No censo anterior, a participação era de 9,3% e, agora, de 14,1%. Ao mesmo tempo, o Rio Grande do Sul é a unidade da federação com a menor taxa de crianças com até 14 anos (17,5%).
O Rio Grande do Sul e seus municípios, por estarem à frente nesta transição, estão ainda mais desafiados
As razões do envelhecimento da população são largamente conhecidas. Devem-se essencialmente à paulatina redução da fecundidade dos brasileiros, junto ao aumento da longevidade. É um fenômeno já observado notadamente nos países desenvolvidos. Mas com uma diferença basilar. Em regra, foram nações que elevaram em muito a renda de seus habitantes antes da mudança demográfica, que também ocorreu de forma bem mais lenta. Isso gerou, por exemplo, menores problemas previdenciários. Já o Brasil, incapaz de crescer e distribuir riquezas em um ritmo que seria adequado, está desperdiçando o chamado bônus demográfico – período em que a população economicamente ativa é maior do que a de idosos e crianças.
A transformação da pirâmide etária traz diversos desafios e necessidades de adaptação. São mudanças que terão de ser mais bem compreendidas pelo mercado e, especialmente, pelo poder público, sempre mais lento e que não dispõe dos recursos necessários para atender à modificação de perfil nos serviços que presta na devida celeridade.
Um dos primeiros pontos de atenção será a previdência, visto que o ritmo de pessoas entrando no mercado de trabalho será menor, enquanto vai crescer o de pessoas mais velhas, em idade de aposentadoria. As próprias empresas terão de se ajustar a uma disponibilidade maior de capital humano mais maduro. Com uma população mais velha, os gastos com saúde, da mesma forma, serão inevitavelmente ampliados. Em contrapartida, será possível elevar a alocação per capita na educação. Isso, em tese, teria de possibilitar melhor qualidade de ensino, elevando a produtividade do trabalho.
As cidades também terão de se adequar. Desde a aspectos como transporte público mais acessível, até a passeios públicos amigáveis. As calçadas irregulares e em péssimo estado, hoje, são armadilhas espalhadas para pessoas que começam a ter menor capacidade de locomoção e agilidade e, portanto, mais sujeitas a quedas com consequências graves.
O Rio Grande do Sul e seus municípios, por estarem à frente nesta transição, estão ainda mais desafiados. Existem bons exemplos de cidades moldadas a esta realidade em pontos não só de infraestrutura, mas de promoção da saúde, de atividade física e de vida social. Veranópolis, na Serra, é um dos casos mais conhecidos. Se o Brasil e o Estado serão cada vez mais grisalhos, é preciso começar a agir desde já para que a velhice, em especial para a população sem as condições financeiras adequadas, não seja um fardo, mas uma nova fase da vida em que se sintam saudáveis, acolhidos e úteis.