Mesmo com dez anos de dedicação aos Bombeiros Voluntários, Marlene e Jefferson dos Santos não escondem a emoção que sentiram ao atuar na maior tragédia rodoviária de Santa Catarina. O casal, que hoje trabalha como instrutor na corporação de Corupá, ajudou na retirada dos corpos na Serra Dona Francisca, em Joinville, na noite de sábado.
Eles chegaram ao local do acidente por volta das 19h, quando quase todos os feridos já haviam sido resgatados e o trabalho se concentrava na retirada dos corpos.
- O dia a dia de ocorrências te prepara para cenas fortes, mas nada diminui o choque de ver tantas vítimas, um acidente dessa proporção. Parecia um cenário de guerra. O cheiro de sangue era muito forte - desabafou Marlene.
Como o ônibus parou em um barranco, o acesso às vítimas demandava esforço extra dos socorristas. O casal ajudou a substituir as primeiras equipes, que começavam a demonstrar cansaço físico. Eles formavam um corredor para transportar as vítimas fatais para uma área mais plana.
- Uma imagem que me marcou muito foi quando um policial encontrou um bebê, de uns dois ou três meses, enrolado numa manta rosa, e abraçou como se fosse filho dele. Os outros tentaram ajudar, mas ele levou sozinho até o ponto de apoio - contou Marlene, emocionada.
- O respeito às vítimas foi constante. Todos os corpos eram transportados com cuidado e carinho - completa Jefferson.
Aprendizado com a experiência
Como em todas as ocorrências que participam, Marlene e Jefferson agora vão analisar as fotos e vídeos do resgate para transformar a experiência em aprendizado. A logística e o modo como a operação foi realizada servirão de base para novos treinamentos e um estudo de caso aprofundado.
- Pensamos o que faríamos se acontecesse aqui, na Serra de Corupá (BR-280), que tem um ambiente muito parecido com a SC-418. Nos perguntamos se as dificuldades seriam as mesmas e de que forma agiríamos para salvar as vítimas.
O casal se surpreendeu com a união e integração entre as corporações envolvidas - aproximadamente 200 pessoas entre bombeiros voluntários e militares, policiais militares e rodoviários, e servidores da Defesa Civil.
- Não se ouvia gritaria e a parte operacional funcionou muito bem, a organização foi fundamental para o trabalho fluir.
Não era trote
Quando os Bombeiros Voluntários de Corupá foram chamados para ajudar no resgate, Marlene e Jefferson estavam participando de um treinamento extraordinário sobre sinalização em rodovias. Os alunos do curso acharam que o caso era um trote ou uma pegadinha para que eles se concentrassem mais no assunto.
- É comum simular uma ocorrência durante o treinamento, mas neste caso não era. Eles só perceberam que a situação era grave depois de um bom tempo, quando o comandante falou muito sério.
Acidente na Serra
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