
Com mais de 90 anos de história, a Fontana SA é uma das principais indústrias brasileiras de produtos de higiene pessoal e doméstica. Sua matriz fica em Encantado, no Vale do Taquari, e foi duramente atingida pelas enchentes em setembro de 2023 e maio de 2024.
De um evento climático para o outro, a empresa conseguiu adotar diversas medidas e reduzir em mais de R$ 20 milhões o prejuízo causado pela cheia do Rio Taquari em 2024, em comparação com a de 2023.
Além disso, uma nova unidade está sendo instalada em Teutônia e deve ser inaugurada em junho de 2025. A produção de sabonetes em barra e líquido passará a ser realizada na cidade vizinha por dois motivos: a proximidade, que possibilita a manutenção dos empregos, e a maior distância do Rio Taquari.
A engenheira ambiental e coordenadora ambiental e de sustentabilidade da Fontana SA, Bruna Dadalt, comenta, junto com José Bouvie, engenheiro mecânico e gerente de manufatura, as práticas adotadas e os resultados obtidos na prevenção contra cheias.
Qual o objetivo ao criar o plano de prevenção?
Bruna Dadalt — Evitar perdas, cumprir requisitos ambientais e evitar impactos ambientais também. Nesse plano de contingência a gente também analisa realocação dos nossos materiais, matéria-prima, produto, reagentes etc, para que eles estejam em um local onde, caso dê uma enchente e eles sejam atingidos, não sejam projetados para fora do empreendimento. Não impactem diretamente o meio ambiente.
Como esse plano foi elaborado?
Bruna — A construção vem da junção da teoria com a prática. O José tem muito a prática, e eu tinha teoria, que vem da faculdade, como levantamento da parte hidrometeorológica da região.
Com base de dados governamentais, eu acompanho quanto está chovendo nas cabeceiras e o nível do rio. Montamos um plano onde analisamos a chuva e quanto ainda deve chover e, então, no momento em que identificamos que tem chance da água chegar, já ativamos as ações de remoção de materiais e equipamentos.
Também contamos com os nossos profissionais com 35, 40 anos de empresa, que foram essenciais na hora de fazer o plano. Conforme dúvidas iam surgindo, eu conversava direto com o mecânico, o supervisor do processo produtivo, o técnico de segurança do trabalho, entre outros, para saber como as etapas eram feitas na prática, como eles faziam quando começavam os sinais de enchente. Comecei a trocar ideias com a equipe, olhar o que se fazia e o que tinha que melhorar.
Qual a importância de estar atento às questões ambientais e de ter um plano de prevenção?
Bruna — O principal ponto para o plano é ter controle dos materiais, para que não ocorram contaminações, e também a manutenção da estrutura, para que se possa voltar a operar o mais breve possível.
Além disso, tem a nossa cadeia de valor, e aí entra a sustentabilidade. É um plano que analisa o impacto ambiental em todos os stakeholders (as partes envolvidas) — empreendedor, cliente e comunidade em geral.
Outra questão é que, quando a gente ativa o nosso plano de contingência, precisamos saber quem temos disponível, porque muitos dos nossos funcionários também são atingidos pela enchente. Quando a gente ativa o nosso plano, cada gestor já sabe quem são as pessoas atingidas e quem são as que podem estar aqui para dar apoio para a empresa. No episódio de maio, só depois de liberar esses funcionários é que começamos a montar as equipes de trabalho.
Quais os resultados obtidos e o que deve ser melhorado?
José Bouvie — Na enchente de setembro de 2023, tivemos um valor bastante alto de perda em equipamentos, em torno de uns R$ 20 milhões, mais ou menos. Em maio de 2024, tivemos, em equipamentos, um prejuízo em torno de R$ 3 milhões, só. Uma diferença razoável. Em matérias-primas, a gente teve perda de R$ 7,2 milhões em 2023, e de R$ 5,3 milhões em 2024.
Em termos de equipamentos móveis, máquinas, empilhadeiras e veículos, praticamente não houve perda em maio, e em setembro tivemos uma perda quase que total, e os valores aí são grandes. Só na parte de expedição foram R$ 1,7 milhão de prejuízos que nós tivemos em setembro e não tivemos em maio por causa dessa prevenção.
A parte de caldeira também chama bastante atenção. A gente teve um prejuízo de quase R$ 3 milhões na primeira enchente e praticamente R$ 15 mil na outra.
Deu em torno de R$ 20 milhões a R$ 25 milhões que conseguimos deixar de perder, e isso é fruto da organização. A gente aprende da pior maneira. Lembrando que não tivemos esse tempo todo, de setembro até maio, para mudar a fábrica de lugar, mas minimizamos bastante os prejuízos.
E eles poderiam ser menores, mas não tinha mais estrada, como chegar com equipamento, sair ou entrar na cidade. Claro que a gente ainda não estava tão preparado, porque foi um curto intervalo, mas se tivermos uma nova enchente, temos outro formato de trabalhar. Antes, a gente olhava com abundância para os recurso s de logística. Hoje, a gente já não olha assim. No plano, vamos utilizar recursos só internos.