Na escola, Gregorio Duvivier sentia asco de José de Alencar e outras leituras obrigatórias. O menino, que mais tarde viraria humorista e escritor, preferia devorar histórias em quadrinhos, romances policiais e contos fantásticos – gêneros considerados por ele “baixa literatura”.
Para provar que toda forma de leitura vale a pena, Gregorio uniu-se à atriz Maria Ribeiro e ao jornalista Xico Sá para falar de forma descontraída e sem tabus sobre literatura. O bate-papo, batizado de Você É o que Lê, chega a Porto Alegre nesta terça-feira (28), às 20h, no Teatro do Bourbon Country (Av. Túlio de Rose, 80) – o encontro de quarta, marcado para o Teatro Feevale, em Novo Hamburgo, foi cancelado (quem comprou ingresso poderá assistir ao sarau desta terça na Capital).
A “banda”, como Xico Sá apelidou o trio, já passou por Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo – além de ter participado de grandes eventos literários como a Flip, em Paraty, e a Tarrafa Literária, em Santos.
A conversa vai desde os autores que contribuíram para a formação do trio até piadas com Paulo Coelho e Harry Potter, em um clima de improviso e miscelânea de assuntos que Xico Sá compara ao estilo “free jazz” de performance.
– Quando reparamos, demos a volta ao mundo em 80 citações ou autores – brinca o escritor, fazendo referência ao clássico de Julio Verne.
Em um país com baixos índices de leitura, onde uma pessoa lê, em média, cinco livros por ano – sendo que apenas metade foi de fato lida até o final, de acordo com a última pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, divulgada em 2016 –, a ideia do encontro é relacionar o hábito da leitura com uma aventura que provoca, ao mesmo tempo, prazer e conhecimento.
– A gente tenta desmistificar a leitura como uma coisa pomposa, nobre. Queremos mostrar que ler é divertido e que mandar mensagem no celular também pode ser literatura – diz Maria Ribeiro.
Considerar que os textões na internet também são literatura é outra provocação que o trio assume – ao menos em parte. Xico, Maria e Gregorio são, além de leitores e autores de livros, usuários regulares das redes sociais. Maria, por exemplo, reconhece que o tempo dedicado à palavra impressa encurtou conforme aumentou o barulho das notificações no celular. Mas até nesse que é considerado um vício dos novos tempos a atriz tenta encontrar o uso recreativo das palavras:
– Tem literatura no Instagram e tem literatura no Twitter. Você pode tratar o Twitter como um haikai, de certa forma.
Xico admite o gosto pelas frases lidas em um rolar de dedo na tela do aparelho, mas pondera sobre o teor dessas palavras.
– Curto textões, tem muita coisa bem escrita e também “tretas” vigorosas, mesmo não tão literários assim.
Menos otimista em relação às redes sociais, Gregorio considera a internet uma arena “menos poética e mais política”. Estaria, talvez, assumindo a mesma postura de quem, na sua infância, elegia o que era ou não digno de se ler?
Apesar disso, em um dos encontros registrados em vídeo disponível no YouTube, ressaltou a importância dos textos que estão à margem do que é considerado cânone literário.
– Se não fosse a baixa literatura, com certeza não teria começado a ler. Tenho raiva até hoje de José de Alencar – brinca o humorista.
Você É o que Lê
Terça-feira (28), às 20h. Teatro do Bourbon Country (Avenida Túlio de Rose, 80), em Porto Alegre. Ingressos: R$ 15 (mediante doação de um livro não didático) e R$ 30. Meia-entrada para idosos, estudantes, pessoas com deficiência, jovens com até 15 anos e doadores regulares de sangue. À venda na bilheteria do teatro e no link bit.ly/VoceEoqueLe. Crianças de até dois anos que ficarem no colo dos pais não pagam. Quem adquiriu ingresso para o encontro de quarta-feira em Novo Hamburgo, que foi cancelado, pode assistir ao desta terça. Os ingressos devem ser trocados na bilheteria do Teatro do Bourbon Country.