Os 20 anos da morte de Nega Lu, reconhecida pela coragem de desafiar convenções sociais e pela presença marcante na vida noturna de Porto Alegre, não podiam mesmo passar batidos. Para marcar a data, livro Nega Lu – Uma dama de barba malfeita (Libretos Editora, 188 páginas, R$ 50) ganhará edição especial.
O lançamento será nesta quinta-feira (10), às 19h, no Bar do Alexandre, a duas quadras da casa onde ela morou a vida inteira, no bairro Menino Deus (leia mais abaixo).
Assinado pelo craque Paulo César Teixeira, o Foguinho, o trabalho completa 10 anos desde o lançamento, em 2015, e tem o mérito de resgatar a trajetória de Luiz Airton Bastos. Ou melhor: Nega Lu, figura icônica da cena cultural e boêmia da Capital.
Cantora de jazz e blues, solista dos corais da UFRGS e da Ospa e bailarina clássica, ela se destacava pela irreverência e pela valentia de se expor num cenário adverso.
Além do ambiente hostil de uma ditadura militar, Nega Lu vivia em uma Porto Alegre conservadora e provinciana, onde qualquer manifestação pública de afeto e sexualidade ainda era vista como tabu.
O lançamento
Anote aí: o Bar do Alexandre fica na Rua Saldanha Marinho, 120. Haverá sessão de autógrafos e bate-papo com o autor e convidados: Aírton Bastos (sobrinho da Nega Lu), Maythê (amiga pessoal), Coié (líder da banda Rabo de Galo, que tinha a Nega Lu como crooner) e Thiago Pirajira (fundador do Bloco da Laje).
O evento vai contar, ainda, com a trilha sonora luxuosa do DJ Kafu.
No bate-papo, os participantes falarão sobre a Porto Alegre em que viveu a Nega Lu e também acerca do legado dessa figura pioneira, que antecipou algumas das principais conquistas da causa antirracista e dos direitos das pessoas LGBTQIA+.
Edição especial

Além da alteração da capa (com a opção pela foto em cores, e não em preto e branco, como na primeira edição), foram feitas pequenas mudanças relativas a termos ou expressões que, uma década atrás, soavam como naturais ou consensuais e, hoje, podem dar brecha a preconceitos. A evolução da linguagem acompanha um mundo em permanente mutação.
Com design gráfico de Clô Barcellos e edição de fotografia de Tânia Meinerz, a obra traz, ainda, imagens do acervo pessoal da Nega Lu, cedido por sua irmã Hilda Maria.
O livro ganhou o Prêmio de Livro do Ano – Categoria Não Ficção, da AGES (Associação Gaúcha de Escritores), um reconhecimento à trajetória de uma figura tão autêntica quanto incômoda, capaz de antecipar conquistas sociais e comportamentais que só viriam a se estabelecer duas ou três décadas depois.
O biógrafo
O jornalista Paulo César Teixeira frequentou a "Esquina Maldita" (no cruzamento da Avenida Osvaldo Aranha com a Rua Sarmento Leite, que entrou para a história da cidade como um lugar de transgressão e de debates políticos e culturais) na segunda metade da década de 1970. Conhece como poucos o universo de Nega Lu e de outros grandes nomes da noite porto-alegrense.
Com textos em Isto é, Veja, Época, Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo e Diário do Sul entre outras publicações, lançou em 2010 o livro Darcy Alves – Vida nas cordas do violão (Editora Libretos), biografia do violonista Darcy Alves, parceiro de boemia de Lupicínio Rodrigues.
Em 2005 e 2008, Foguinho recebeu o Prêmio ARI (Associação Riograndense de Imprensa) de Reportagem Cultural por Um certo Erico Verissimo e A Rua da Margem, ambas publicadas na revista Aplauso.
O autor lançou os livros Esquina Maldita (2012), Nega Lu – Uma dama de barba malfeita (2015) e Rua da Margem – Histórias de Porto Alegre (2019). Os dois últimos venceram o Prêmio AGES, categoria "Não Ficção", respectivamente, em 2016 e 2020.
Os livros de Paulo César Teixeira foram lançados pela Libretos Editora.