A abertura da Queermuseu na Escola de Artes Visuais (EAV) do Parque Lage, no Rio, entrou para a história recente da arte brasileira e alcançou repercussão mundial — uma reportagem sobre a mostra ganhou chamada de capa na edição do The New York Times da última segunda-feira (27).
O sucesso do financiamento coletivo para realizar o projeto, depois de seu cancelamento em setembro do ano passado no Santander Cultural, na capital gaúcha, reafirma o poder mobilizador da arte e do curador da exposição, Gaudêncio Fidelis. Com um público de 15 mil pessoas nos 10 primeiros dias em cartaz na capital fluminense, a mostra, entretanto, não ficou livre de avaliações negativas.
A crítica de arte Daniela Name, em artigo publicado em O Globo, destaca alguns problemas da exposição, classificada como regular: “O primeiro, e menos grave, é espacial: apesar de reformadas e adequadas à museologia, as Cavalariças não comportam tamanha quantidade de trabalhos. A sensação visual é a de um abarrotado gabinete de curiosidades, sem que haja espaço para o visitante ser envolvido diretamente por cada obra. Há peças posicionadas muito acima do campo de visão e paredes cheias a ponto de causar um curto-circuito perceptivo”.
O problema foi verificado pela reportagem de GaúchaZH em visita à exposição. Um dos principais trabalhos da Queermuseu, a obra O Eu e o Tu (1967), da série Roupa-Corpo-Roupa, de Lygia Clark, está posicionado em uma das Cavalariças, ao fundo, atrapalhando a visualização de algumas telas e com pouco destaque no local.
— A EAV não é um centro cultural enorme. Algumas obras não poderiam estar próximas umas das outras. Mas a exposição está perfeita no espaço disponível — opina a artista plástica Laura Lúcia Limongi durante visita à exposição.
Daniela Name aponta também que a Queermuseu parece “uma exposição diretamente ligada à história da arte em Porto Alegre”, com exageros, por exemplo, na presença dos gaúchos Fernando Baril e Telmo Lanes. Ela destaca ainda a inexistência de uma “pujança queer”. “A maior ausência é a de artistas trans e de trabalhos que apresentem os estados de fluidez e metamorfose de gênero de forma direta e visceral. A mostra ganharia muito se fosse apresentada a partir de pessoas que vivenciam o queer em seus corpos e suas biografias”, escreve a crítica de arte.