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Começa na cidade alemã de Kirchheim unter Teck, no Estado de Baden-Württemberg, na região que faz fronteira com França e Suíça, a história da Livraria Conceição, de Osório, no Litoral Norte, que, durante aproximadamente 40 anos, foi ponto de encontro para discussões acaloradas sobre política, comportamento e futebol na cidade.
Da pequena cidade alemã, saiu, por volta de 1873, Wilhelm Fridrerich Bach, que, no final daquele século, se instalou em Osório. Traduzido para Guilherme ao chegar ao Brasil, seu nome hoje também pertence a uma rua na área que fica próxima à Lagoa do Marcelino. Wilhelm trabalhava com fotografia, nos primórdios dessa arte, e deixou a tarefa como herança para um de seus filhos, Carlos Bach.
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Na década de 1940, Carlos construiu um prédio na área central de Osório, na Avenida Marechal Floriano, quase ao lado da sede da antiga prefeitura. O imóvel tinha dois grandes ambientes. Na parte de trás, ficava um “moderno” estúdio fotográfico, com uma câmara escura (laboratório) para a revelação de filmes.
Na área da frente, foi instalada uma loja de material para escritório e escolar, e a venda de jornais, revistas e livros. Nascia a primeira livraria com serviços fotográficos da cidade, a Livraria Conceição, em homenagem ao antigo nome do município, que já foi chamado Conceição do Arroio.
Com o passar dos anos, Carlos passou a dividir as tarefas da livraria com dois dos seis filhos – Enedir e Eloi. Mais velho dos dois irmãos, Enedir herdou a tarefa de empunhar a câmera do pai, tornando-se uma figura muito conhecida na região, pois frequentava diferentes ambientes para registrar para a posteridade batizados, festas, aniversários de 15 anos, casamentos, bailes de Carnaval e eventos públicos e familiares, além de tirar fotos 3x4 para documentos e, nos piores momentos, ajudar a Polícia Civil produzindo imagens para as perícias em cenas de crimes ou acidentes na rodovia BR-101.
Nem só do comércio e das fotos, no entanto, vivia a Livraria Conceição. Sua alma era sustentada por inúmeras polêmicas patrocinadas por lideranças e referências da comunidade, entre elas os doutores Dani e Maineri, guardiões da saúde dos osorienses, e políticos como um que começava a dar os seus primeiros passos no ambiente trabalhista: Romildo Bolzan, pai do atual presidente do Grêmio, Romildo Bolzan Júnior.
Esses três, somados a outras figuras públicas de Osório, criaram e mantiveram, durante muitos anos, uma rotina. Depois do almoço em suas casas, e antes de retomar as atividades do turno da tarde, era obrigatória uma passagem pela Livraria Conceição para tomar um chimarrão e se manter informado das últimas notícias, que chegavam pelos jornais e revistas de Porto Alegre e do centro do país, como Manchete e O Cruzeiro. Aproveitavam, também, para fazer circular as “informações locais”, com conversas e segredos sobre os últimos acontecimentos da cidade.
Na década de 1970, já com outras livrarias em funcionamento, a Livraria Conceição começou a enfrentar também a concorrência dos supermercados e suas seções de papelaria. Nessa época, desativou seu estúdio fotográfico e, aos poucos, foi perdendo o posto de referência que ocupava. Em 1976, encerrou definitivamente as suas atividades. Hoje, no prédio no qual esteve instalada, funciona uma loja de roupas infantis. A Livraria Conceição morreu. Mas ficou sua lenda forjada em exaltados e entusiasmados debates.