O prefeito de Porto Alegre chamou a espécie pelo nome certo: "Os caranguejos não irão vencer travando o Marco Zero", disse no fim da semana a um grupo de empresários. É impressionante a capacidade da burocracia de tumultuar ainda mais a já enrolada novela do Cais Mauá. O dramalhão mexicano tem tantos personagens que nem o maior roteirista de Hollywood conseguiria escrever um final compreensível.
São relatórios, palpites, achismos, ataques egóicos e um rolo financeiro mais barrento do que as águas no Guaíba. Quando a parte possível da solução de curto prazo estava alinhada, aparece um relatório que joga as suas páginas no ventilador. Justo que o governo do Estado busque o resguardo de seus interesses, mas a pororoca era dispensável.
Ainda bem que o governador Eduardo Leite leu com atenção, não apenas o relatório que recomenda o rompimento do contrato com os responsáveis pela revitalização, mas a situação de uma forma mais ampla. Começar tudo outra vez não é possível. Já começou há horas e, se parar novamente, retrocederemos uma enorme distância atrás da linha de largada. Movimentos bruscos só conseguem uma coisa: assustar os investidores.
O Marco Zero é um projeto bacana, que irá entregar aos porto-alegrenses um pedaço abandonado da cidade, aquele colado na Orla Moacyr Scliar. Será uma espaço provisório, com áreas de lazer, gastronomia e estacionamento. Não é tudo, mas é algo palpável até que a urucubaca que tranca o Cais Mauá há décadas seja removida – por um tribunal ou pela fé. Melhor contar com ambos.