O governo federal deveria ter vergonha. Em vez disso, fez o anúncio em tom de celebração: em 2024, o país bateu o recorde de arrecadação. O trabalho dos brasileiros — cidadãos e empresas — garantiu aos cofres públicos federais R$ 2,65 trilhões, um aumento de 9,6% em relação ao ano anterior. Esta até poderia ser uma boa notícia, mas não é. Por dois motivos principais.
1) Basta um passeio de 15 minutos pelas das maiores cidades brasileiras para ver que a quantidade de moradores de rua, de favelas e de catadores de lixo não diminuiu. Ao contrário. A pobreza e a desigualdade formam uma realidade humana e economicamente inaceitável, mas nos acostumamos a ela. Nessa mesma linha, empresas de todos os portes seguem enfrentando os tentáculos da burocracia oficial — cara, pesada e ineficiente.
2) Boa parte desse recorde arrecadatório não é fruto da eficiência, mas sim do aumento de impostos. Além disso, o governo gasta cada vez mais. E não gasta bem.
Assisti, no Jornal Nacional, a uma reportagem sobre o tema. E percebi na fisionomia do representante da máquina pública o orgulho ao dar a notícia. Está no papel dele. O mais correto, porém, seria um representante do governo, de preferência o presidente da República, declarar: “Peço desculpas, brasileiros, por tirar mais dinheiro de vocês e usar tão mal”.
Sempre com absoluto respeito às divergências, entendo que impostos são necessários. Assim como governos. A questão é o que os donos da chave do cofre fazem com essa avalanche de recursos confiscados da sociedade. Apesar do apetite insaciável, o governo segue gastando mais do que tem. É um saco sem fundo.
O Rio Grande do Sul enfrentou com bravura e coragem uma enchente devastadora. Muito já foi feito, mas ainda temos lapsos importantes na infraestrutura, moradia, escolas e empresas. Nesse contexto, ouvir o governo federal se gabando por tirar mais dinheiro das pessoas e das empresas é uma afronta. Até porque a máquina estatal fala muito em arrecadação e pouco em eficiência. A nós, cabe pagar a conta. E, de preferência, não reclamar.