"Não sei como Deus me colocou aqui".
Na boca do presidente Michel Temer, a frase acabou virando piada nas redes sociais.Brincadeiras à parte, a sentença resume bem dois costumes enraizados não só na arena política, mas no nosso dia a dia.
O primeiro, mais aparente, é a inclinação que temos para conferir ao sobrenatural e ao divino a responsabilidade pelas situações em que porventura nos encontramos.
O segundo é a pouca atenção que costumamos dispensar às nossas próprias atitudes – principalmente àquelas que, depois de um tempo, se transformam em hábitos e acabam nos levando a lugares onde não gostaríamos de estar.
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Tenho um colega que anda incomodado com o próprio peso. Está determinado a mandar vários quilos embora para recuperar o fôlego e, por que não, ganhar uns elogios. Voltou ao futebol, cortou a batata frita e até passou a olhar as folhas verdes de alface com mais carinho. Percebendo tamanho empenho, perguntei, de brincadeira, por que tinha se descuidado tanto, se essa questão do excesso de peso de fato o incomodava. A resposta veio em forma de piada, com um leve erguer de ombros:
– Ora, ninguém acorda 30 quilos mais gordo!
Sem que percebesse, o hábito prazeroso de comer porções extras todos os dias acabou transformando-o em alguém que não gostaria de ser, explicou.
Não raro, seguimos, durante anos a fio, uma trilha de pedrinhas coloridas que nos leva a um destino indesejado.
A pergunta "gosto de fazer isso?" é diferente da pergunta "gosto de quem sou quando faço isso?
Podemos encontrar certa satisfação em comer pizza todos os dias, mas isso não significa, necessariamente, que gostaremos do nosso corpo depois de anos e mais anos fazendo isso. Podemos sentir grande regozijo em sair repassando algum detalhe sobre a vida do vizinho ou do colega de trabalho, mas com certeza não teremos orgulho algum de sermos apontados como indiscretos ou fofoqueiros.
A máxima também vale para o outro lado. Posso não gostar de acordar cedo, mas me sinto ativo e disciplinado quando faço isso. Correr no parque pode ser exaustivo, mas também recompensador, porque me transforma em alguém mais saudável e disposto. E eu gosto de me sentir assim.
Ficar atento aos próprios hábitos e se perguntar aonde eles levarão fica a critério de cada um. Só não vale depois sair dizendo que foi Deus quem o colocou lá.