
O clima da segunda-feira (7) seguinte ao tarifaço de Donald Trump foi condicionado por quedas históricas nas bolsas asiáticas. A bolsa Hang Seng, de Hong Kong, entrou em modo precipício: desabou 13,22%. É o maior tombo desde a crise asiática de 1997 e supera tanto as quedas diárias durante o estouro da bolha das subprime – entre 2007 e 20029, a maior queda diária foi de 12,7% –, quanto as da pandemia.
O caso de Hong Kong é particular, porque a sexta-feira (4) em que a crise do tarifaço de Trump se agravou nos mercados foi feriado. Mas um olhar para as demais mostra que, se nenhuma outra bolsa asiática teve queda de dois dígitos, todas aprofundaram as quedas: a japonesa Nikkei despencou 7,83% e a Kospi, da Coreia do Sul, 5,83%.
Quedas desse tamanho podem não se repetir nas bolsas ocidentais, mas os futuros nos Estados Unidos também estão no vermelho, embora em tom mais suave: na bolsa de Nova York, o índice mais tradicional (Dow Jones Industrial) cai 1,9%, o mais abrangente (S&P 500) recua 1,8%, enquanto a bolsa de tecnologia, a Nasdaq, tomba 2%.
Conforme The Wall Street Journal – principal publicação financeira dos Estados Unidos, que faz parte do império de Rupert Murdoch –, um aliado de Trump, a reação negativa desta segunda é condicionada pelas declarações do presidente americano no final de semana. Em especial, destaca este trecho:
— Não quero que nada caia. Mas às vezes você tem de tomar remédios para consertar algumas coisas.
A interpretação é de que, apesar de identificar os efeitos ruinosos da tática do tarifaço, Trump pretende manter a posição, ao menos por algum tempo. No domingo, vários integrantes do governo dos EUA afirmaram que mais de 50 países abriram "negociações" com a Casa Branca.
Mesmo usando a palavra inadequada, não acenaram com melhora de curto prazo. O secretário do Tesouro, Scott Bessent, traçou o seguinte cenário:
— Não é o tipo de coisa que você pode negociar em dias ou semanas. Vamos ter de ver o que os países oferecem e se dá para acreditar neles. Depois de 20, 30, 40, 50 anos de mau comportamento, você não pode simplesmente apagar tudo o que já foi feito.
A palavra é inadequada porque não se trata de negociar no sentido estrito: duas ou mais partes conversam para tentar obter o melhor resultado possível para todas. A expressão mais adequada seria "extorsão", que é "ato de obrigar alguém a fazer ou deixar de fazer alguma coisa, por meio de ameaça ou violência, com a intenção de obter vantagem, recompensa, lucro".
Os impactos possíveis
Antes do anúncio oficial, bancos, universidades e órgãos de financiamento de exportações fizeram projeções sobre o impacto do tarifaço de Trump. Cada um adotou um cenário diferente para o aumento das alíquotas. A coluna está mantendo, no final dos textos sobre o tarifaço de Trump, os principais pontos, mas adverte: o anúncio, concordam os especialistas, foi pior do que o esperado e tornou os cenários traçados benignos frente ao potencial de prejuízos.
1. Goldman Sachs, uma das maiores instituições financeiras dos EUA, com aumento de 15 pontos percentuais neste ano: aumento na probabilidade de recessão de 20% para 35%, alta no índice de inflação mais observado pelo Fed de 3,5% (a meta lá é de 2% ao ano).
2. Laboratório de Orçamento da Universidade de Yale, com elevação de 13% na tarifa efetiva dos EUA: aumento de preços entre 1,7% e 2,1%, redução entre 0,6 e 1 ponto percentual no PIB e perdas de US$ 1 mil a US$ 1,3 mil para as famílias americanas.
3. Instituto das Economias em Desenvolvimento, ligado à Organização de Comércio Exterior do Japão (Jetro, na sigla em inglês), com tarifas de 25% dos EUA: queda de 0,6% no Produto Interno Bruto (PIB) mundial em 2027 (perda de US$ 763 bilhões), puxado por tombo de 2,7% no PIB americano de 2027 e forte impacto nos lucros de empresas americanas que dependem de componentes chineses.
4. Universidade Aston (Reino Unido), com tarifas de 25% sobre todas as importações, seguidas de retaliações na mesma alíquota: perda de US$ 1,4 trilhão na economia mundial e drástica elevação de preços nos EUA. Teria efeitos semelhantes ao da guerra comercial de 1930 que aprofundou a Grande Depressão.