
Porto Alegre é, cada vez mais, uma cidade de pessoas idosas. Os dados são do IBGE: 21% dos moradores da capital têm 60 anos ou mais. São 292,2 mil pessoas, gente suficiente para definir uma eleição, inclusive para prefeito.
Apesar da eloquência dos dados, a cidade faz de conta que eles não existem. Calçadas mal cuidadas, placas e avisos em locais públicos com letras pequenas demais e atendentes sem treinamento para compreender os consumidores maduros são apenas alguns exemplos. Um dos mais cruéis, porém, está na engenharia de trânsito. Notícia desta semana:
“Uma mulher, de 70 anos, morreu após ser atropelada por um lotação no Centro Histórico de Porto Alegre. A vítima, identificada como Silvia Lucilia Sanches Cardoso, foi atingida pelo veículo por volta das 13h20min da tarde desta terça-feira (11). Ela morreu no local”.
Não conheço as circunstâncias do acidente, que deverão ser investigadas. Mas a relativa ignorância sobre a árvore não me impede de enxergar a floresta.
Se fosse um caso isolado, já seria triste. Não é. Comece a prestar atenção. Atropelamentos de idosos estão se tornando cada vez mais frequentes em uma cidade pensada para privilegiar os carros.
Em Porto Alegre, as pessoas idosas não são bem vindas nas ruas.
Em determinados locais, os tempos de travessia para pedestres beiram o absurdo. Nem Usain Bolt, no auge da sua forma, conseguiria chegar na outra calçada, provavelmente esburacada, antes que a prioridade fosse devolvida aos imperadores da mobilidade urbana: carros, ônibus, caminhões e motos.
Em Porto Alegre, as pessoas idosas não são bem vindas nas ruas. Outro dia recebi um e-mail de um porto-alegrense de 82 anos. Ele contou que existe uma praça da sua casa, mas evita ir até lá. Por quê? Uma vez, enquanto caminhava, um dos tantos cães que correm soltos pelo local pulou nele e o derrubou.
Sei que corro um risco. Qualquer questionamento que envolva animais de estimação transforma o questionador em inimigo da humanidade. Então, explico: não estou escrevendo sobre cães, mas sim sobre a forma com alguns dos seus tutores os administram. Há espaço para todos na cidade, desde que alguns pactos de convivência sejam respeitados. Não é favor. É dever.