
O jornalista Vitor Netto colabora com o colunista Rodrigo Lopes, titular deste espaço.
Com 14 anos de atuação, o Instituto Latino-Americano de Desenvolvimento Econômico e Sustentável (Ilades) realiza na quinta-feira (3) o primeiro dos seis eventos que irão debater a pauta ambiental e as perspectivas para a COP-30, em Belém.
Serão cinco encontros preliminares, que culminarão no 6º Fórum Internacional de Mudanças Climáticas, com discussões entre empresários, pesquisadores e autoridades sobre ambiente e desenvolvimento. O advogado e presidente do Ilades, Marcino Fernandes Rodrigues Jr, conversou com a coluna.
O que é o evento?
Todos os encontros terão um eixo de assuntos que serão discutidos na COP. Fizemos uma base com todas as temáticas da conferência, justamente para que sejam uma espécie de aquecimento para que possamos, inclusive, construir algum documento de proposição, de contribuição para o debate. O primeiro evento chama-se Diálogos Sustentáveis. O tema será a redução das emissões de carbono no saneamento básico. Convidamos três gestores de companhias de saneamento básico: o presidente do Dmae (Departamento Municipal de Água e Esgotos), Bruno Vanuzzi, da Companhia de Saneamento de Caxias do Sul, João Uez, e o diretor da Comusa, de Novo Hamburgo, Neri Chilanti. Vamos receber um grupo de empresários e de agentes públicos. Nosso propósito é a disseminação de conhecimento qualificado. O segundo encontro, em 8 de maio, será focado no protagonismo da indústria na transição energética e adaptação do clima. Também falaremos sobre as novas matrizes energéticas, a transição que estamos começando ainda de uma forma muito modesta. A indústria tem dado a sua contribuição. O terceiro tem como título "A Contribuição da Cadeia do Agronegócio na Agenda do Clima". Na sequência, abordaremos o novo marco legal do mercado de carbono no Brasil, cuja lei foi sancionada em dezembro. Depois, no quinto, vamos abordar as cidades inteligentes. Os resíduos são uma grande fonte de emissões de gases de efeito estufa. Vamos abordar a mobilidade, mobilidade urbana e toda essa transição.
Quais são as responsabilidades das empresas na pauta ambiental?
As empresas são de suma importância, porque têm um papel nas suas comunidades, e a indústria em especial. Não estou dizendo aqui que a indústria tem maior ou menor impacto. Toda atividade econômica tem (impacto), inclusive a pública. Mas tudo isso é possível de ser melhorado, com eficiência nas atividades, na cadeia do agro, na própria indústria, utilizando insumos reciclados. A indústria e o empresário, na realidade, estão num processo de reinventar a nova economia. Estamos falando de uma economia de baixo carbono, de atingir metas que foram acordadas na COP de Paris, há 10 anos. São ambiciosas, mas, às vezes, é melhor ter metas ambiciosas e tentar atingi-las do que modestas e não atingir nenhuma. Se o setor empresarial se mobilizasse, estaríamos em uma situação diferente de hoje. Estaríamos mais à frente nessas metas. Queremos contribuir para que o tema da gestão sustentável seja algo central nas companhias e na mesa do acionista. O papel do setor empresarial é o mais importante. Governos mudam a cada quatro anos. O empresário constrói uma empresa que pode durar 50, cem anos. Tem uma condição diferente no sentido de seguir uma determinada agenda ambiental, até porque ela interfere economicamente na sua imagem, na sua marca, na sua reputação. O setor empresarial é capaz de fazer a grande mudança, contribuir para o setor público também fazer as adaptações, as melhorias nos processos. Sem o setor empresarial, não vamos avançar.
Quais as expectativas para a COP30?
A palavra de ordem daqui para frente é a adaptação. Isso tem a ver com a nossa vida e com o clima. A transição que vamos fazer significa nos adaptarmos a novas fontes de energia. A COP tem uma importância muito grande, porque durante duas semanas, teremos milhares de pessoas observando o Brasil, acompanhando os debates, as proposições, a agenda do clima. Outra questão importante: os recursos financeiros para que os países em desenvolvimento possam fazer avançar as adaptações e nas tecnologias de melhoria, de prevenção, de redução de emissões. As metas são ambiciosas, mas, para ganharmos tração, tem de haver uma mobilização, participação do setor empresarial. O governo não tem, sozinho, capacidade financeira ou física de liderar esse processo. Tem de ser liderado pelos setores empresarial e público juntos. E a COP dá essa oportunidade. Ter a COP30 no Brasil é um privilégio, que nos dá a condição de mostrar que o país também tem ações e iniciativas importantes. Sabemos a importância do desenvolvimento econômico responsável. Temos de avançar, porque quem gera riqueza é o setor produtivo, não é a gestão pública. Quem gera emprego, renda e oportunidade de trabalho e estudo, pesquisa, é o setor privado. Esse equilíbrio da congestão que eu defendo, entre privado e público, seria o melhor.