O jornalista Vitor Netto colabora com o colunista Rodrigo Lopes, titular deste espaço.
A luz da posse de Donald Trump nos Estados Unidos e a partir das perspectivas de consolidação do acordo entre Mercosul e União Europeia, a coluna questionou Fernando Marchet, vice-presidente de Economia da Federasul, sobre os principais pontos da economia nos quais devemos prestar a atenção em 2025.
Estados Unidos
Quando se fala de temor inflacionário não é uma inflação a 10%, como na pandemia. Estamos falando de uma pressão inflacionária de 3% a 3,5%. Esse é um debate que ainda está no campo teórico, vai depender de quais medidas serão adotadas e da capacidade de executar algumas delas. Quando olhamos para o time do Trump, diferente do que ele vinha dizendo, há um misto de pessoas mais arrojadas e outras moderadas, sobretudo em relação aos nomes para Tesouro, para o FED (banco central). Há certa moderação e pessoas com visão adequada sobre equilíbrio entre política fiscal e política monetária em busca de um crescimento de longo prazo. Acho que isso é algo que possa vir a surpreender positivamente nesse campo no que se refere a taxa de juros e efeito inflacionário. Nossa é de Trump adotará medidas para fomentar o crescimento. Algumas anunciadas talvez não sejam implementadas ou enfrente dificuldades, como as tarifas para importações da China. Como ele está com o time mais ou menos inteligente ao seu lado, os caras vão dizer para ele: "Se taxar insumos, vai matar a nossa indústria". Vai evitar a importação da China? Não acredito.
Argentina
O governo vem adotando medidas adequadas no médio e longo prazos, mesmo que com muita dor no curto prazo. A inflação e a pressão financeira vêm caindo. Nada diferente do que o presidente Javier Milei dizia que faria: ajustes duros administrativos e em termos da questão fiscal do Estado. O país vem acumulando superávits, algo bastante positivo. A economia vai apanhar esse ano, com queda de 3% a 3,5% em 2024, e projeções de 5% de alta em 2025.
Acordo do Mercosul-UE
O agro é um carro-chefe forte. Cerca de 85% do que o Brasil importa da UE vai estar mais ou menos liberado nesse acordo. Certa de 92% do que a UE importa do Brasil também vai estar liberado. Então, a gente tem um pequeno ganho aqui em termos percentuais entre importações e exportações. Acho até que o Brasil deveria trabalhar com acordos bilaterais. Essa ideia de fazer tudo pelo Mercosul é sempre desafiador. Mas é muito positivo o que aconteceu nesse primeiro momento.
Europa
Se pegarmos o extrato de importações e exportações, existem poucos países da Europa que fazem parte dos principais países para os quais o Brasil exporta. Tem a Alemanha, a Holanda. É uma relação que poderia ser mais estreita. Talvez o acordo do Mercosul permita um estreitamento. Mas depende muito da própria economia crescer. A taxa de juros básica da região do euro ainda é alta para padrões deles, sobretudo diante de uma economia que vem crescendo pouco. A economia respondendo de forma mais forte lá talvez significasse mais para o Brasil. A equação difícil nesse momento é que, com tantos conflitos ao redor, há pressão sobre preço da energia, transporte e logística. Há a questão da migração também. Os países estão mais velhos, e muita resistência em aceitar pessoas de outras nações com mão de obra mais barata no dia a dia.
Ucrania x Rússia e Oriente Médio
Nosso termômetro deve ser: para onde vai essa escalada. Sou muito cético quanto a uma solução entre Ucrânia e Rússia. Infelizmente, acredito que a Ucrânia terá de dar grande parte do território para a Rússia. Isso é um perigo, porque emite um sinal positivo para quem quer tomar terra de outros. No Oriente Médio, acredito em possíveis acordos com Turquia e Egito para acalmar a região. Não acredito que irá se encontrar a paz duradoura.
China
Acho que a China pode ter um acordo com os Estados Unidos. Dependendo de como for esse rearranjo, melhor será para a China se ela conseguir tratar de forma pragmática os Estados Unidos, cedendo de um lado, mas conseguindo ter uma relação que não seja só belicosa. Acredito que a China possa vir a colher benefícios com isso no médio prazo. Não é um cenário fácil de se construir, até porque há uma certa intenção de confrontar os americanos em termos de segurança e tecnologia. É um país que tem infraestrutura, domínio sobre algumas tecnologias e grande população com poder de consumo. É um país comunista, eles conseguem planejar objetivos em uma janela de prazo mais longo do que os outros, que tem sempre a pressão da troca de governo, com janelas de curto prazo. Não que seja positivo, mas permite um planejamento mais longo.