Aos 34 anos, a advogada Daniela Russowsky Raad é a nova presidente da Federação Israelita do Rio Grande do Sul (Firs). Ela é a mais jovem dirigente da instituição e a segunda mulher.
Descendente de árabes e judeus, Daniela conversou com a coluna sobre seus planos para a entidade, a integração dos judeus no Estado e o antissemitismo.
Como a sua descendência contribui para a sua visão de mundo?
Meus avós por parte de pai eram libaneses, vieram para o Brasil em 1948. Eram cristãos maronitas. Por parte de mãe, tenho uma família judia. Meus bisavós vieram para cá, para o Brasil fugidos da região da Bielorrússia, naquela onda imigratória para as colônias do interior do Rio Grande do Sul, para Philippson, especificamente. Tanto da parte libanesa da família quanto da parte judia valorizamos muito o respeito, as pluralidades. Também prezamos muito pela educação. Isso me forjou como pessoa.
Há uma renovação na presidência?
Gosto de pensar como uma continuidade. Quando se vê alguém jovem, isso remete a uma ideia de ruptura. Não é como eu vejo. É uma diretoria que, na média de idade, todos são relativamente jovens. Mas, ao mesmo tempo, para se chegar a uma diretoria como essa, existe um trabalho de muito tempo. Sobre o fato de ser mulher, a gente teve Matilde Gus, a outra presidente, muitos anos atrás, que fez um trabalho maravilhoso e que é uma inspiração. Temos movimentos na comunidade muito fortes que trabalham com o social e com a caridade. Foram sendo plantadas sementes que vão gerando frutos. Hoje, eu estar aqui, como jovem, mulher, é resultado do trabalho de pessoas que foram plantando, deixando um espaço para desenvolvimento, para que a gente quisesse vir também e continuar esse trabalho.
Você era vice-presidente. Também nesse sentido é de continuidade?
Comecei como voluntária Firs aos 19 anos, mas na diretoria estou há quatro anos. No último ano eu era vice. Foi uma sucessão bem feita. O Márcio Chachamovich, o antigo presidente, fez um trabalho incrível. Não teve uma renovação completa da diretoria.
Como você pretende tratar o tema do antissemitismo?
O antissemitismo não é novo. Achar que surgiu nos últimos anos é ingenuidade. Sempre existiu. É uma forma de ódio, de preconceito, de racismo. Infelizmente, isso existe e dificilmente a gente consegue se livrar. A gente contém o antissemitismo, trabalha para que não se propague. A Conib criou um sistema de mapeamento nacional que mostra que, no último ano, houve um aumento de quase 70% de denúncias no Brasil. Isso só faz com que a gente tenha de trabalhar de forma ainda mais firme para combater o ódio. O antissemitismo, a meu ver, vem, em grande parte, devido à ignorância.
Como combater?
Eu acredito que a educação e a informação são as melhores formas. Essa gestão tem um comprometimento total em relação a isso.
Hoje em dia, pessoas antissemitas querem disseminar algum ódio contra os judeus e o fazem, muitas vezes, mirando Israel.
Como vê a importação no Brasil do tema dos conflitos no Oriente Médio, em geral com uso político e ignorando as complexidades daquela região?
Precisa ser evitada. A gente não tem de trazer o conflito para cá. A comunidade judaica é conhecida. A gente completou 120 anos da imigração judaica para o RS no ano passado. Nesses 120 anos a comunidade judaica foi mais do que acolhida e mais do que abraçou. Ela se integrou a todas as outras comunidades no Estado. Isso é o que temos de olhar: para essa construção conjunta. Hoje em dia, pessoas antissemitas querem disseminar algum ódio contra os judeus e o fazem, muitas vezes, mirando Israel. Chamamos de roupagem do antissionismo. É necessário quebrar estereótipos, preconceitos, de achar que a comunidade judaica tem um perfil único. Isso não existe. A comunidade é plural, diversa politicamente. É preciso valorizar o respeito ao próximo, à vida, à tolerância ao outro, ao diferente.