O sociólogo Maurice Halbwachs (1877-1945) foi um grande estudioso sobre memória. Ele dizia que "fazemos apelo aos testemunhos para fortalecer ou debilitar, mas também para completar o que sabemos de um evento do qual já estamos informados de alguma forma".
Além disso, o francês estudava uma teoria chamada de "memória coletiva". Ele explica, em seus estudos, que ela parte do princípio segundo o qual, junto com uma ou mais pessoas, conseguimos pensar ou recordar em comum. Por meio dessa memória, muitas vezes indivíduos podem não ter vivido determinado período, mas por pertencerem a um grupo reconhecem a história e são capazes de transmiti-la a outras pessoas.
Halbwachs cita também outra teoria, chamada de “memória histórica”, que se destina à participação de um indivíduo como membro de um grupo ou uma sequência de eventos: “a história é a compilação dos fatos que ocuparam maior lugar na memória dos homens”, diz no livro "Memória Coletiva".
Há uma outra teoria muito próxima das anteriores que trata de "lugar de memória", ou seja, locais que contam ou trazem a história de determinada pessoa, nação ou fato. Um dos principais estudiosos do tema é o filósofo, também francês, Paul Ricoeur (1913-2005). Ele vai além, citando que os arquivos constituem um fundo documental.
O filme "Ainda Estou Aqui", que foi indicado em três categorias ao Oscar de 2025 remonta a essas duas teorias: de memória coletiva e de lugar de memória.
Lugar de memória porque serve para lembrar da ditadura militar no país, e memória coletiva pois, até quem não viveu o período, sabe — ou deveria saber — sobre os desmandos daquele período. O filme serve para nos lembrar daqueles momentos da história do país e, ao mesmo tempo, descortinar para as novas gerações que não haviam nascido entre 1964 e 1985 a noite escura daqueles anos. Para que não se esqueça, para que nunca mais aconteça.