O jornalista Vitor Netto colabora com o colunista Rodrigo Lopes, titular deste espaço.
Entre os assuntos da política externa que envolvem a volta de Donald Trump à Casa Branca estão possíveis conflitos armados no continente americano, com respingos no Brasil.
O primeiro é a retomada do Canal do Panamá. O republicano já afirmou várias vezes antes da posse e na cerimônia o desejo de retomar o controle do local e que não deixaria de empregar forças armadas para isso.
O segundo, na avaliação de analistas militares, é consequência do primeiro: a possível a reação do ditador venezuelano Nicolás Maduro diante de uma eventual investida americana sob o Canal do Panamá. Em 2023, Maduro insinuou anexar o território de Essequibo, que pertence à Guiana.
O professor Eduardo Svartman, doutor em Ciência Política e professor da UFRGS, avalia que, por enquanto, o discurso do novo governo dos Estados Unidos está focado no México e no Panamá.
— É evidente que esse tipo de tensionamento na região não interessa ao Brasil, porque cria instabilidade, que pode se desdobrar em algum tipo de conflito e, consequentemente, em refugiados e a presença de potências extrarregionais. Nada disso interessa ao Brasil — explicou à coluna.
O pesquisador lembra que, até o momento neste mandato, Trump ainda não falou explicitamente sobre a Venezuela.
— É importante lembrarmos que no outro governo Trump, houve uma tentativa de mudança de regime na Venezuela. O secretário de Estado americano gravou um vídeo fomentando que as pessoas se rebelassem, enquanto o governo americano reconhecia aquele que os EUA identificaram como o legítimo representante do povo venezuelano. Houve movimentação séria nesse sentido, que acabou não sendo bem sucedida, não envolveu a mobilização de tropas, mas não se pode descartar algo nesse sentido ao longo dos próximos meses ou anos.
Sobre a questão envolvendo o território de Essequibo, o professor avalia como possível um cenário de conflito armado:
— É importante que tanto a diplomacia quanto a defesa no Brasil estejam acompanhando esses cenários e fazendo gestões para que a situação não se degenere. A Venezuela aparentemente ainda não está no radar do novo governo Trump, mas pode vir a estar, o que certamente traria consequências para o Brasil para além do número de venezuelanos que, por conta da prolongada crise no país vizinho, já busca uma vida melhor aqui no Brasil.