Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa, como diz o ditado popular. Mas há coincidências. A queda dos serviços do Google, na manhã desta segunda-feira (14), registrada em várias partes do mundo (entre elas no Brasil), não foi uma ação de hackers. A empresa explicou que o colapso que deixou milhares de pessoas sem conseguir trabalhar ou estudar ocorreu em seu sistema de autenticação "em razão de um problema de gestão interna da cota de armazenamento".
Ao que tudo indica foi um problema interno, e a Google informou que tudo já voltou ao normal.
Mas há reflexões importantes sobre nossa dependência.
Do ponto de vista pessoal, não é mais possível (nunca foi, na verdade) imaginar que estamos completamente seguros com serviços na nuvem. Ataques de hackers são raros, mas erros de gigantes que monopolizam a internet têm se tornado comuns.
Ter uma conta de e-mail em um provedor diferente ajuda a não perder todos os contatos ou ficar refém de apenas uma plataforma. Segundo, guardar cópia de dados em outro lugar, de preferência em armazenamento local, como em HDs externos, é fundamental.
As preocupações empresariais são enormes. Em setembro, uma pane geral na infraestrutura de autenticação da Microsoft derrubou o acesso a diversos serviços, como o Teams e o e-mail do Outlook.com. São plataformas usadas por centenas de milhares de corporações mundo afora para conectar seus funcionários e manter milhares de computadores funcionando 24 horas. No episódio desta segunda-feira, organizações que pagam pelo Google Workspace, a linha empresarial do Google, ficaram sem acesso. Isso significa que empresas pararam.
O apagão veio um dia depois de o governo americano reconhecer que hackers agindo sob o comando de um governo estrangeiro - provavelmente a Rússia - invadiram redes de departamentos nos Estados Unidos, incluindo o de Tesouro e de Comércio. Embora não haja detalhes, o governo já admite que esse é um dos maiores ataques aos sistemas federais nos últimos cinco anos. Uma semana atrás, a NSA (Agência de Segurança Nacional) emitiu um alerta dizendo que atores agindo sob influência russa estavam explorando falhas em um "sistema amplamente usado pelo governo federal". Em seguida, empresa de segurança digital FireEye, que tem entre seus clientes o governo americano, veio a público dizer que hackers haviam roubado algumas de suas ferramentas que permitem encontrar vulnerabilidades nos sistemas de seus clientes.
Os EUA esperavam uma ofensiva do tipo durante a eleição americana. Dessa vez, veio depois, como efeito retardado, e aponta para a SVR, uma das principais agências de inteligência russas. Não à toa o governo Joe Biden tem no Kremlin seu principal adversário estratégico.
Por enquanto, são só coincidências entre a invasão da NSA e o caso Google, mas preocupações com segurança e confiabilidade na internet são assuntos que chegaram para ficar.