A organização não-governamental Stop Hate Brasil identificou 125 bandas neonazistas no país, quatro delas no Rio Grande do Sul. À coluna, a coordenadora do trabalho, Michele Prado, comenta o aumento do extremismo, que se prolifera principalmente pelas redes sociais.
Como vocês chegaram a quatro bandas neonazistas no RS?
Identificamos quatro por enquanto. Digo por enquanto, poque há 47 que ainda não conseguimos identificar o local de origem. No total, mapeamos 125 bandas neonazistas no Brasil. Ontem, localizei mais uma no Rio Grande do Norte. É um trabalho de longo prazo, pode ser que surjam novas e que apareçam Estados que ainda não apareceram.
Já foram mais bandas no RS?
Temos uma lacuna de dados confiáveis e verificáveis em relação ao extremismo, especialmente violento, racial e etnicamente motivado, que é o neonazismo. Os dados que circulam, segundo os quais haveria mil células nazistas, muitas concentradas na Região Sul, não têm base verificável. São números fictícios. Há operações policiais no Sul, mas também no interior do Pará, em Rondônia, Minas Gerais e Bahia, por exemplo. Em relação às bandas, São Paulo se destaca, concentrando grande número (45) e uma rede bem estruturada. Há indivíduos neonazistas que operam essa subcultura desde os anos 1990, que têm selo fonográfico, casas de evento e sites. Não é algo marginal, é estruturado.
Elas se conectam?
Sim, fazem álbuns em conjunto, usam vários pseudônimos, criam múltiplas bandas e gravam muitos álbuns não só com outras bandas neonazistas brasileiras, mas também internacionais. Identificamos 140 álbuns com bandas neonazis de 35 países. Desses, EUA lideram, depois aparecem Alemanha e Polônia.
Como conversam entre si?
Há canais dedicados só para a disseminação de músicas de ódio para radicalização e recrutamento. A música é um veículo.
O objetivo é recrutar jovens?
Principalmente jovens, que estão mais vulneráveis. Mas há pessoas de todas as idades. Na liderança, há muita gente com mais de 40 anos. Quando escutam as músicas juntos têm uma sensação de pertencimento. Usam muitos canais no ambiente digital.
Como vocês pressionam as plataformas para que removam os conteúdos?
Muitas músicas ainda estão ativas. Estamos tentando uma reunião com Spotify. Inclusive uma das bandas tem selo de artista verificado. Esse indivíduo tem cinco bandas neonazistas e vai tocar em dois festivais neonazistas na Argentina e na Itália nos próximos meses. No YouTube, há mais bandas ainda. O Telegram é pouco colaborativo. Discord melhorou bastante as políticas de segurança, são muito colaborativos. O X está bem difícil. A Meta era colaborativa, hoje, com as mudanças em suas políticas, não sei. Há uma escalada de radicalização online, principalmente entre crianças e adolescentes. É uma epidemia global.
Como está o monitoramento do antissemitismo?
O antissemitismo é a porta de entrada para a radicalização. Na semana passada, houve um atentado em uma escola nos EUA cometido por um adolescente negro. Ele deixou um manifesto antissemita. Antissemitismo, racismo, é crime imprescritível e inafiançável. Se a pessoa proferir esse discurso hoje, se gravar um disco neonazi, racista, antissemita, daqui 10 anos ela pode ser processada. Precisamos com urgência de regulamentação online específica sobre extremismo violento e terrorismo online. Sem envolver política, partidarismo, discussões subjetivas. Esses dois são verificáveis, e a população vai ter propensão a apoiar.