Deputados federais e senadores retornam do recesso neste sábado (1º) para eleger os novos presidentes das duas casas legislativas, em disputas cujos virtuais vencedores já são conhecidos. Enquanto Hugo Motta (Republicanos-PB) deverá ser confirmado no comando da Câmara, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) lustra os sapatos para retornar à presidência do Senado.
Conduzindo estratégias semelhantes, tanto Motta quanto Alcolumbre conquistaram o apoio de partidos do governo e da oposição, em arcos de aliança que vão do PT ao PL. Embora polarizem a discussão política nacional, o lulismo e o bolsonarismo não contam com força parlamentar suficiente para arrematar o comando das casas legislativas. Diante disso, ambos decidiram aderir aos favoritos do centrão a fim de garantir espaços nas mesas diretoras e nas comissões.
Motta foi ungido para comandar a Câmara no próximo biênio pelo atual mandatário, Arthur Lira (PP-AL). Disposto a manter a influência, Lira escolheu um nome palatável tanto ao Planalto quanto à direita e conduziu pessoalmente a adesão das bancadas ao aliado. Com apoio declarado de partidos que somam quase 500 dos 513 deputados, Motta tem margem folgada para compensar eventuais traições.
Além dele, vão apresentar candidaturas para marcar posição os deputados Pastor Henrique Vieira (PSOL-RJ) e Marcel van Hattem (Novo-RS), que almejam atrair votos de insatisfeitos com o acordão à esquerda e à direita, respectivamente. A sessão preparatória para a eleição na Câmara está marcada para 16h.
Antes, a partir das 10h, a maioria do Senado deverá referendar a candidatura de Davi Alcolumbre à sucessão de Rodrigo Pacheco (PSD-MG). O amapaense, que já foi presidente entre 2019 e 2021, tem apoio de legendas que somam cerca de 70 das 81 cadeiras e não encontra adversários competitivos.
Marcos Pontes (PL-SP) ensaiou uma candidatura, mas foi repreendido publicamente por Jair Bolsonaro. O ex-presidente quer evitar a reprise da última eleição, quando o PL lançou Rogério Marinho (RN) contra Pacheco, perdeu a eleição e ficou sem cargos relevantes na casa — o que impede, por exemplo, a convocação de ministros para depor em comissões.
Apesar da bronca e do apoio formal do PL a Alcolumbre, o astronauta decidiu manter o nome na vitrine até o dia da eleição. Outros membros da oposição que se anunciaram dispostos a concorrer foram Marcos do Val (Podemos-ES) e Eduardo Girão (Novo), ambos sem representatividade.
Considerado um articulador com trânsito em diferentes bancadas, Alcolumbre tem a simpatia de colegas de posições ideológicas distintas. Ao mesmo tempo, é partícipe do governo Lula, com influência na indicação dos ministros da Integração Nacional, Waldez Góes, e da Comunicação, Juscelino Filho.
Tanto na Câmara quanto no Senado, a eleição para a Mesa Diretora, havendo mais de um candidato, se dá por cédulas de papel, que são depositadas por parlamentares em urnas dispostas nas Casas. A posição de cada votante é secreta.
O que esperar dos novos comandos
Governo Lula
Como os novos presidentes representam a continuidade, o Palácio do Planalto deve continuar tendo vida mais tranquila no Senado, ficando sujeito a apuros nas negociações com a Câmara. Enquanto Alcolumbre tem indicações na Esplanada, Motta tende a adotar postura mais independente, semelhante à de Arthur Lira.
O cientista político André Pereira César, da Hold Assessoria Legislativa, sublinha a diferença entre os dois:
— Com o Alcolumbre, os riscos políticos são menores e o governo deve ter mais tranquilidade. Agora, o Hugo Motta é uma incógnita. Ele se aproximou do Planalto nos últimos tempos, mas não é uma figura confiável e pode ser fonte de problemas — aponta César.
Avanço do centrão
A renovação na liderança das casas, somada à queda na popularidade do governo, abre espaço para que o grupo de partidos conhecido como "centrão" pleiteie mais espaço em ministérios e poder sobre o orçamento. Os novos presidentes serão peças importantes nas discussões sobre a reforma ministerial planejada por Lula para este ano.
Em paralelo, quanto menor a força do governo, maior será o poder de barganha de parlamentares pela liberação de emendas e controle de maior fatia dos recursos federais.
O professor Rodrigo Prando, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, diz que os políticos costumam sentir "cheiro de fragilidade".
— A falta de entregas do governo faz com que os deputados ganhem musculatura e voracidade em cima do orçamento. Qualquer votação de interesse do governo será ao custo de liberação de muitos recursos — avalia.
Anistia
Compromisso exigido pelo PL para dar suporte às candidaturas de Motta e Alcolumbre, a inclusão na pauta de votações do projeto que anistia condenados pelo 8 de Janeiro ainda é uma incógnita.
Deputados conservadores tentam emplacar a urgência para a votação do projeto, o que deixaria o tema mais perto de chegar ao plenário da Câmara.
Analistas ponderam que o avanço da proposta dependerá do clima político, da força dispendida pelo governo para barrá-la e de acontecimentos externos, como a medida semelhante concedida por Donald Trump nos Estados Unidos.
— É um jogo de estica e puxa. Quando um sujeito (Francisco Wanderley Luiz) atacou o Supremo e se explodiu, foi uma baixa para esse projeto. Agora, a ascensão do Trump e a atuação dele nesses primeiros dias reforçou essa pauta aqui. A ala conservadora no Congresso sempre tentará pleitear isso — comenta o cientista político André César.
Perfis
Quem é Hugo Motta
Médico paraibano de 35 anos, exerce o quarto mandato de deputado federal. Será o presidente mais jovem da história da Câmara. Líder do Republicanos e vice-presidente nacional do partido, já foi do MDB e teve proximidade com o ex-presidente da Casa, Eduardo Cunha. Pouco midiático, se dedica a costuras de bastidor. Tem boa relação com ministros e quadros do PT, mas não pode ser carimbado como governista.
Quem é Davi Alcolumbre
Cumprindo o segundo mandato de oito anos no Senado, o empresário amapaense de 47 anos já presidiu a casa entre 2019 e 2021. Dali, saiu para comandar a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), o mais importante entre os colegiados. Um dos poucos senadores sem curso superior completo, circula bem entre colegas de direita e de esquerda. Cotado para ser ministro no governo Bolsonaro, aliou-se ao governo Lula e deve fazer uma gestão alinhada ao Planalto.