Imagens de conflitos no Oriente Médio ou temas relacionados às questões geopolíticas da região, como a fuga em massa de populações no Iraque e na Síria, voltaram a ser as vencedoras do World Press Photo, o mais cobiçado concurso de fotografia jornalística do mundo. O grande campeão da edição de número 60, anunciada nesta segunda-feira, foi o flagrante captado pelas lentes da Canon de Burhan Ozbilici, da agência de notícias Associated Press, que foi cobrir o lançamento de uma exposição de fotografias em Ancara e testemunhou o assassinato à queima-roupa do embaixador russo na Turquia, Andrei Karlov.
Enquanto o assassino Mevlüt Mert Altintas atirava no embaixador, Burhan apertava o disparador de sua câmera, mantendo o sangue-frio a poucos metros do assassino. Na sequência de imagens do ensaio intitulado "Um assassinato na Turquia", muitos jornalistas e a plateia aparecem escondidos. O atirador continua com a arma em punho, erguendo-a e apontando em várias direções, à medida que grita palavras de ordem pelas vítimas de Aleppo, na Síria, país que vive uma guerra civil entre opositores do regime, terroristas do Estado Islâmico e tropas do governo de Bashar al-Assad apoiadas pela Rússia. O corpo do embaixador está no chão, baleado.
Mais de 5 mil fotógrafos de 125 países disputaram o World Press este ano com 80 mil imagens. Foram 45 premiados em oito categorias. Na seção sobre temas contemporâneos os 2º e 3º colocados também ficaram com profissionais que retrataram conflitos no Oriente Médio e a onda de refugiados. O primeiro ficou com uma imagem icônica de 2016, de Jonathan Bachman, da Reuters: a enfermeira Leisha Evans se posiciona, pacificamente, em frente a uma tropa de choque em Baton Rouge, na Louisiana, Estados Unidos. Os manifestantes protestavam contra a violência policial, no auge da tensão racial no país, em 2016.
Na categoria projetos de longa duração, chama a atenção um conflito cada vez mais preocupante: a guerra na Ucrânia. A imagem, de Valery Melnikov, mostra um casal em fuga de sua casa, em chamas, atingida por um bombardeio. A Rússia, que tenta retomar influência em países do antigo bloco soviético, anexou há mais de um ano a região da Crimeia. A crise nas barbas da Europa é um dos pontos de maior instabilidade no planeta.
O júri destacou que a imagem do embaixador sendo morto resume "o ódio dos nossos tempos". Eu diria que o ano de 2016, a se julgar por todas as imagens vencedoras do World Press, resume o ódio dos nossos tempos.
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