É frustrante constatar que, na prática, não há prazo seguro para finalizar a duplicação da BR-290, entre Pantano Grande e Eldorado do Sul. Em entrevista à Rádio Gaúcha no dia 16 de agosto do ano passado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se comprometeu de forma peremptória a entregar a obra até o encerramento de seu mandato, em dezembro de 2026. Sabia-se à época que era uma promessa inexequível. Pela inexistência de trabalhos nos trechos 1 e 2, os mais próximos da Capital, e também pela falta de perspectiva firme de início das atividades de homens e máquinas nesses pontos. Ainda assim, com alguma condescendência, poderia se imaginar que o tom do presidente indicava boas novidades em breve. Quase oito meses se passaram, sem nenhuma evolução concreta.
Outra vez se constata que é merecida a descrença da sociedade em promessas sobre obras públicas
O colunista Jocimar Farina, que acompanha de perto o andamento da duplicação, informou na semana passada que não há perspectiva de a duplicação, em seus 115 quilômetros, ser concluída antes de 2029. Permanecem os efeitos do imbróglio jurídico sobre os contratos dos lotes 1 e 2 que impediram o início das obras. Mas há um obstáculo adicional, que há muito se sabia, mas para o qual não se endereçou solução desde o início da duplicação, em 2014. Há a necessidade de transferências de famílias indígenas que vivem às margens da rodovia, em Eldorado do Sul. Para a realocação, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) precisa adquirir uma área de 300 hectares. Trata-se de um processo bastante demorado, que já atrasou outras duplicações, como as das BRs 116 e 386. Não se pode alegar desconhecimento sobre a complexidade para a remoção das famílias de povos originários, merecedoras de todas as garantias previstas na Constituição.
Os trechos 3 e 4, entre Butiá e Pantano Grande, até têm um andamento razoável. Mas o prolongamento mais movimentado seguirá por um tempo incerto em pista simples, saturado e perigoso. A extensão da BR-290 entre Eldorado do Sul e Uruguaiana é a única que não é duplicada na ligação rodoviária entre São Paulo e Buenos Aires. É uma das mais importantes estradas federais que cortam o Estado e principal corredor de transporte de mercadorias comercializadas entre o Brasil e Argentina.
No início do governo Lula 3, celebrou-se o anúncio de retomada da obra. Foi listada como prioridade. Em julho de 2023, em um ato suprapartidário em Eldorado do Sul, o superintendente do Dnit no Estado disse ser possível terminar a duplicação até 2026. Na Assembleia Legislativa, foi criada a Frente Parlamentar pela Duplicação da BR-290. Lideranças dos municípios que margeiam a estrada aderiram à mobilização. Também em julho do mesmo ano, foi o projeto mais votado no Estado na consulta popular organizada pelo governo federal para ajudar na formatação do Plano Plurianual (PPA) 2024-2027, instrumento que baliza a elaboração da lei orçamentária. Oficialmente, era a garantia de que a duplicação da BR-290 teria de fato tratamento privilegiado, com garantia de recursos. Passou o tempo e outra vez se constata que é merecida a descrença da sociedade em promessas sobre obras públicas. Os principais nós para a ampliação da estrada, dois anos após anúncio da retomada, permanecem atados.