A repentina preocupação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em encontrar formas de baixar os preços dos alimentos mostra que acendeu definitivamente a luz amarela da preocupação com a popularidade e os efeitos da comida mais cara na eleição de 2026. Inflação alta, ainda mais de produtos com grande peso no orçamento das famílias de renda baixa, é ameaça à reeleição de qualquer incumbente. Enquanto o IPCA fechou 2024 com elevação de 4,83%, a alimentação no domicílio subiu quase o dobro, 8,23%, e acima da elevação dos ganhos dos trabalhadores.
Inflação alta de produtos com grande peso no orçamento de famílias de renda baixa é ameaça à reeleição de qualquer incumbente
É esperado que um presidente mostre inquietação com um problema que assola a base da população. Mas gera assombro a forma errática de sinalizar providências. Nos últimos dias, o noticiário foi tomado por uma profusão de iniciativas jogadas ao vento, citadas, especuladas e desmentidas. Além dos ruídos, como a fala inábil do ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, que referiu “intervenções” para baratear as refeições dos brasileiros. O resultado foi reacender temores de heterodoxias como tabelamentos, geradores de mais distorções no mercado e que sempre dão errado. Outra possibilidade aventada foi a mudança no prazo de validade de alimentos.
Mesmo que iniciativas voluntaristas sejam negadas, o receio permanece. Até por parecer que, até agora, o núcleo do governo não conseguiu compreender as causas da carestia. Sem o diagnóstico correto, cresce o perigo de ações desastradas pela busca desesperada da recuperação da popularidade. Ocorre que, basicamente, os alimentos subiram por fatores climáticos, como a seca em grande parte do país em 2024, e pela escalada do dólar, movimento que o próprio governo tem parcela de culpa pela sinalização de pouco apreço pela saúde das finanças do país.
No caso da carne, o fator central é uma mudança no ciclo da pecuária, com maior aperto na oferta para abate. Se o governo reivindicava sem razão os méritos pela queda do preço da picanha, agora recebe a cobrança pelo aumento do preço do corte mais desejado para churrasco e um dos símbolos das promessas de campanha do petista.
alta de 1,06%. Na sexta-feira, após reunião ministerial para debater o assunto, o governo sinalizou redução de impostos de importação para produtos com cotações internas superiores às internacionais, como o milho. Mesmo que novas medidas pontuais venham, como cortes de custos no vale-alimentação, é consenso entre economistas que os efeitos serão mínimos. Outra vez deve-se ressaltar que soluções mágicas, como controle de preços, produzem desastres.
O melhor a fazer, neste momento, é focar a responsabilidade fiscal, com a adoção de medidas de contenção de gastos. Ajudaria a diminuir a pressão no câmbio – uma vez que boa parte dos insumos e produtos agropecuárias é sensível à variação do dólar – e nos juros. A agricultura é grande tomadora de crédito. Mas o custo elevado do capital inibe produtores de alimentos de todos os portes a pegar os financiamentos necessários para o custeio e o investimento, essenciais para o aumento da produtividade no campo.