A preocupação com a perda de participação do Estado no total de riquezas produzidas no Brasil e no sul do país se renova com os números e as constatações trazidos na entrevista da economista Juliana Trece à colunista Marta Sfredo, publicada nesta segunda-feira (31) em Zero Hora. Juliana integra o Núcleo de Contas Nacionais do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre) e coordena o Monitor da Atividade Econômica da instituição, que fez uma análise sobre o desempenho da atividade regional desde o início do anos 2000. A conclusão é a de que o Rio Grande do Sul tem de encarar as suas fragilidades e reagir para recuperar o dinamismo perdido.
Resta dar celeridade à reação, perceptível em alguns aspectos, como o incentivo à inovação e à produção de conhecimento
É gritante a discrepância do desempenho do Estado na comparação com Santa Catarina. Enquanto o PIB catarinense avançou a uma média anual de 2,5% entre 2001 e 2024, no Rio Grande do Sul o crescimento foi de 1,5%. Em 2002, os gaúchos representavam 40,9% da economia do Sul, na liderança folgada entre os três Estados. Na última série disponível, de 2022, a fatia era de 35,5%. Há cerca de uma década Rio Grande do Sul e Paraná se alternam na posição de maior PIB. Os paranaenses permaneceram estacionados em termos de participação. O percentual de Santa Catarina pulou de 22,6% para 27,8%.
Algumas das percepções não são novidade, mas convém reforçá-las. Em primeiro lugar, desequilíbrio das finanças públicas prejudica a performance econômica no longo prazo. Outra observação é a de que a grande dependência do Rio Grande do Sul da agricultura passou a ser mais arriscada devido à maior instabilidade climática. Sucessivas estiagens derrubam ou freiam o PIB do Estado nos últimos anos. Passa da hora de depender menos da chuva. Em Santa Catarina, o setor de proteína animal, menos sujeito a oscilações bruscas, iguala-se em peso à agricultura.
Outra conclusão, ligada à anterior, é a premência de diversificar mais a economia, para depender menos do desempenho incerto do campo. Juliana destaca a evolução catarinense em frentes como tecnologia e inovação. “Quando a inovação é forte, a indústria se beneficia”, conclui, ao notar um crescimento setorial disseminado em Santa Catarina. O dinamismo atrai mão de obra e aumenta população. Em 2000, o Estado vizinho tinha cerca de 5,3 milhões de habitantes, conforme o IBGE. Em 2022, a estimativa indicava mais 7,6 milhões. Neste intervalo, os moradores do Rio Grande do Sul permaneceram na casa dos 10 milhões.
Diagnósticos não faltam aos gaúchos. Resta dar celeridade à reação, perceptível em alguns aspectos, como o incentivo à inovação e à produção de conhecimento em centros de pesquisa e tecnologia ligados a universidades, indústrias e companhias de outras áreas, além de hubs como o Instituto Caldeira, na Capital, que incentivam o surgimento de negócios disruptivos e ajudam a formar talentos para a nova economia, na qual o Estado deve se inserir com protagonismo. Há outras iniciativas do gênero no Interior com o mesmo objetivo. O Pacto Alegre, criado há seis anos para impulsionar o desenvolvimento da capital gaúcha, vai em sentido semelhante. Assim como os esforços para sediar o South Summit, que em breve terá a quarta edição, também se inserem neste contexto de despertar e de agir. _