A segunda posse do republicano Donald Trump na presidência dos Estados Unidos, nesta segunda-feira, assinala uma guinada radical na administração do país mais poderoso da América e, por consequência, na geopolítica mundial. Se realmente cumprir as promessas de campanha reiteradas no último domingo em Washington durante o ato denominado Comício da Vitória e oficializadas nos decretos que já começou a editar, Trump colocará em prática uma série de medidas protecionistas para a economia e a indústria norte-americana, restringirá severamente a imigração ilegal e abandonará as políticas de diversidade adotadas pelo governo democrata de Joe Biden. Para isso, ele conta com amplo apoio, tanto da população que o reelegeu quanto de uma maioria parlamentar folgada, uma Suprema Corte conservadora e até mesmo das grandes empresas de tecnologia que se alinharam recentemente ao republicano.
Ainda que defenda algumas posições polêmicas e até contestadas por lideranças e organizações internacionais, especialmente em temas relacionados ao meio ambiente e aos direitos humanos, Trump começa o seu novo governo com perspectivas reais de recuperar a economia norte-americana. Para isso, ele está montando uma equipe de assessores reconhecidamente qualificados, com potencial para virar o jogo e cumprir seu lema de campanha, de fazer a América grande outra vez.
É legítimo esperar que a solidez do sistema democrático estado-unidense continue funcionando como preventivo e correção para eventuais desvios cometidos pela administração de plantão.
Embora desperte reações de desconfiança e até de críticas antecipadas por seu estilo bravateiro, em muitas situações o republicano vem se revelando um bom negociador, como ocorreu ainda na semana passada em relação à trégua no conflito do Oriente Médio e, mais recentemente, no rumoroso episódio da plataforma chinesa Tik Tok, que chegou a ser suspensa no último dia da administração anterior. Ao conceder um prazo maior para as duas partes buscarem uma solução negociada, o presidente republicano atendeu o clamor de parcela expressiva da população que utiliza a plataforma digital para se comunicar e fazer negócios.
Considerando-se o poder que detém, algumas provocações feitas por ele realmente assumem o tom de ameaça. Foi o que ocorreu recentemente quando disse que os Estados Unidos deveriam anexar o Canadá ao território norte-americano e poderiam usar a força para se apropriar da Groenlândia e do Canal do Panamá. Mas suas atitudes contrariam as bravatas, tanto que já retomou o diálogo com o presidente da China, considerado o maior rival norte-americano na disputa pela hegemonia mundial.
Evidentemente, nem tudo pode ser levado na brincadeira. Embora certas manifestações trumpistas possam ser consideradas inconsequentes, o cargo que ele ocupa tem o potencial de transformar palavras em ação e de mexer com o comportamento das pessoas. Basta lembrar que foi um pronunciamento irresponsável no final de seu mandato anterior que estimulou seus apoiadores a invadir e depredar a sede do poder legislativo do país. Ironicamente, a mesma democracia que ele colocou sob suspeita naquela ocasião acabou assegurando seu retorno ao poder. Até por isso, é legítimo esperar que a solidez do sistema democrático estado-unidense continue funcionando como preventivo e correção para eventuais desvios cometidos pela administração de plantão.
Mesmo que se discorde dos posicionamentos de Trump sobre temas controversos, como política de imigração, meio ambiente, diversidade e comércio internacional, não há como ignorar que sua eleição foi legítima e que ele representa, neste momento, uma perspectiva de mudança de rumo no país que lidera a economia mundial e exerce influência em todos os continentes. O melhor para a humanidade é que Trump faça um bom governo e que sua habilidade para negociar com outros líderes mundiais conduza o planeta para tempos menos conflituosos.