A CBF não convenceu os clubes, foi antes convencida por eles no episódio da ampliação de estrangeiros de cinco para sete. O presidente da entidade ouviu um apelo em uníssono dos dirigentes do futebol brasileiro. Que bom seria se tivessem esta unidade para temas tão mais decisivos e essenciais para um futuro melhor de cada clube.
O melhor exemplo — aliás, o pior exemplo, já que atrasa todo o processo — é a existência de dois grupos que negociam com dois interessados diferentes para a criação de uma Liga só. Até agora, não foram capazes de estabelecer projeto unificado que tivesse a sensatez e o equilíbrio de contemplar a todos os envolvidos. No entanto, para aumentar o número de estrangeiros, uniram-se com velocidade espantosa.
Antes que o colunista soe xenófobo, cabe o vital esclarecimento de que não se trata disso. Algumas das maiores contribuições ao futebol brasileiro vieram de jogadores estrangeiros. Eu defendi a contratação de Abel Ferreira para a Seleção no ciclo pós-Tite. Vi, encantado, o futebol exuberante praticado por De León no Grêmio e D'Alessandro no Inter.
Ou Ancheta e Figueroa. Ou uma longa lista de estrangeiros bem-sucedidos em solo brasileiro. No Brasil, o uruguaio Pedro Rocha virou ídolo no São Paulo, Doval era um argentino que parecia carioca, tamanha sua identificação com o Flamengo, e o peruano Guerrero foi decisivo para o Corinthians no segundo título mundial.
A questão aqui não é impedir o jogador estrangeiro de atuar no Brasil, seria de uma estupidez rotunda. A ampliação de cinco para sete é que me parece descabida e desnecessária porque abre o flanco para que os jogadores da base percam ainda mais espaço e o futebol brasileiro passe a ter não a nata dos jogadores nascidos fora do Brasil e sim uma profusão de jogadores comuns virando teto para o crescimento de talentos feitos em casa.
A conta é matemática, terei cuidado por entrar em seara que não domino. Veja: clubes que estejam com orçamento restrito e precisem optar onde aplicar o dinheiro ficarão tentados, com a ampliação do número de estrangeiros por elenco, a contratar jogador pronto além-fronteiras ainda que sejam nota cinco ou seis. Não precisa maturação e paciência para contratar jogador que já estabeleceu carreira. Basta trazê-lo.
O prejuízo na formação do jogador brasileiro com esta medida mais permissiva é incalculável. O argumento de que na Europa é diferente cai por terra com facilidade. Lá, existe de fato um mercado comum e o fluxo de jogadores se dá nos principais mercados europeus.
Há todo tipo de nacionalidade, sim, mas circulam por Espanha, Alemanha, Itália, França, Inglaterra com muito mais equilíbrio. Na América do Sul, o predomínio financeiro do Brasil é avassalador. É improvável que Uruguai, Argentina, Paraguai, Colômbia ou Equador contratem jogadores brasileiros na mesma proporção em que o Brasil contratará jogadores destes países.
E o que a história recente conta é que o poder econômico grita nesta hora. Na dúvida entre um talento da base ou estrangeiro acessível, o retrospecto é de aposta simplória no estrangeiro, ainda que ele não seja protagonista no seu mercado original. O menino talentoso da base estará autorizado a uma leitura de perspectiva de mercado que o leve a se transferir para a Europa ainda mais cedo do que já acontece.
Afinal, se um clube europeu mostra interesse por ele em tenra idade é para prepará-lo visando a um futuro aproveitamento. No novo cenário, ficando por aqui, passa a ser muito mais difícil que o jovem talentoso tenha oportunidade porque o mercado induzirá a providência mais simples do dirigente pressionado por maus resultados ou pouco dinheiro.
Ao invés de formar, testar e confirmar o garoto de talento que surge, muito mais fácil e palatável — inclusive para a torcida, sempre ansiosa por resultados de curto prazo, o que é de sua natureza — para o dirigente será abrir o cofre para trazer alguém que pareça menos aposta e responda mais rápido. Se der errado, basta tentar de novo e de novo e de novo.
A CBF acolheu o pedido dos dirigentes neste quesito, não vou condená-la por ter acolhido. Antes, critico a ideia levada à entidade por dirigentes que não parecem ter percebido as possíveis consequências nocivas à formação de novos jogadores no Brasil. Bem fez a CBF ao negar a diminuição do número de rebaixados, outra intenção clara de autoproteção dos maiores clubes para blindar eventuais gestões desastrosas que autorizem fazer.
O razoável, caso houvesse uma mexida, seria estabelecer uma disputa entre o quarto colocado da Série B e o 17° da Série A para ver de quem seria a última vaga na Primeira Divisão. Seria emocionante. Mas, na dúvida neste quesito do rebaixamento, como diria Thiaguinho, "deixa tudo como tá..."
O presidente Ednaldo Rodrigues está justamente empenhado em zerar casos de racismo no futebol brasileiro, eu o aplaudo por isso. No entanto, a CBF avançou para um terreno perigoso na melhor das intenções. Está disposta a mexer em resultado de campo como medida extrema contra a reincidência de um mesmo clube no caso de racismo. Não gosto da ideia de mexer em resultado de campo, abre brechas perigosas para disputas jurídicas infinitas.
Muito melhor seria a punição pecuniária sumária que não deixaria margem à dívida. O clube onde houvesse episódio de racismo teria multas com valores cumulativos. A CBF descontaria o dinheiro da cota de televisão ou da cota de participação do clube no campeonato.
Sem apelo, sem veja bem. Caso fosse condenado por atos de racismo, não haveria espaço para trocar o pagamento da multa por qualquer outra pena. Sangrar no dinheiro, aí está o segredo para fazer o clube se empenhar para evitar racismo em suas dependências.
Quando falo em multa, estou falando em multa de milhão para cima com valores que vão crescendo à medida da reincidência. Puna em R$ 10 milhões um clube que foi descuidado neste quesito e veja se ele não tratará de voltar todas as atenções para a causa.
O jogador mais barato do Inter
Pedro Henrique é o jogador mais barato do elenco colorado. Embora seu salário esteja na casa dos três dígitos, o custo/benefício do atacante faz dele o jogador de mais desproporcional remuneração no grupo. Colorado que é, Pedro Henrique não se envolve nas conversas para sua valorização salarial.
Há um gatilho que renova automaticamente seu contrato se cumprir um determinado percentual de jogos nesta temporada. Se não houver acerto antes de se aproximar este dia, pode haver constrangimento que a direção colorada certamente está empenhada em não deixar acontecer.
Embora o contrato com o jogador vá até o fim de 2024 e as cláusulas tenha sido mutuamente assinadas, o contexto mudou por completo desde que Pedro Henrique, inesperadamente, virou protagonista no clube do seu coração.
Não se trata aqui de apenas cumprir a letra fria da lei. É preciso sensatez para não perder o jogador no ânimo do que entrega e deixar claro à torcida que o clube reconheceu, sim, a evolução do atacante e tudo que ele produz em campo.
No momento em que abre o cofre para se reforçar com jogadores veteranos como Aranguiz e Luiz Adriano, o Inter precisa estar atento para não deixar escapar ou se abater quem já está no elenco dando uma resposta extraordinária.
Nem sei se Pedro Henrique é do samba ou só gosta do gênero executado pelas deliciosas bandinhas. O que sei é que PH vai desfrutar um carnaval em que é, de longe, o jogador que mais entrega comparado à remuneração que recebe. Tem direito a pés para cima e dedinhos ao alto no seu alalaô.