
Uma tragédia grega em versão nordestino-brasileira-continental. Assim poderia ser definida a trajetória do maior goleiro nascido no Brasil que vi jogar nos meus 60 anos.
A história de Manga tem de tudo: nenhum goleiro do mundo foi perseguido pelo próprio treinador de revólver em punho, por exemplo. Manga, sim. Por João Saldanha, que pressupunha ter no gol um goleiro que se vendia, algo jamais confirmado.
Atuação antológica
Manga é também o brasileiro que vai virar ídolo no Uruguai e por lá é campeão da Libertadores. Vira ídolo no Nacional-URU para sempre, como para sempre no Inter por conta da atuação antológica na final do primeiro Brasileirão conquistado pelo Inter em 1975.
Manga joga contra o Cruzeiro com lesão muscular. Vai para o sacrifício, segundo as próprias palavras, “para não deixar o Schnais na mão”. Ele se referia a Schneider, o goleiro de quem tomou a posição ao chegar um ano antes.
Defesas impossíveis
Manga faz defesas impossíveis depois do gol de Figueroa, incluindo duas cobranças de falta de Nelinho e um escanteio defendido com uma só das mãos. Manga seria goleiro colorado no bicampeonato, mas sai depois da perda do Gauchão em 1977. Parecia o fim, mas tragédias gregas sempre têm grandes reviravoltas.
Redenção e retorno ao RS
Manga pega tudo e leva o Operário do Mato Grosso às semifinais do Brasileirão daquele ano. Redimido, tenta refazer sua história gaúcha atuando no Grêmio em 1979. Fica só um ano, vai às lágrimas ao sair.
Perguntado pelo repórter por que chorava, respondeu apenas:
— Eu gosto daqui.

Fora do Brasil
O resto de sua errática e intensa trajetória se dá outra vez fora do Brasil. Torna-se ídolo no Equador, por lá encerra a carreira e perde tudo que tinha. Acolhido de volta o ao Brasil, vai morar no Retiro dos Artistas.
Com suas mãos desfiguradas de tanto impedir gols nos pés dos atacantes, com seu rosto marcado pela vida, com uma comovente e permanente tristeza no olhar, Manga vai agora praticar seus milagres num lugar feito exatamente para isso. O céu.