
A pressão de deputados de partidos de centro nos últimos dias acendeu um alerta no governo Lula sobre o Projeto de Lei (PL) da anistia. Até agora, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), resistiu à pressão da ala bolsonarista da Câmara e, no início da semana, havia revelado a lideranças que a cobrança pública que tem sofrido, com ameaça de boicote em votações, era um tiro no pé da oposição. Mas o apoio ao projeto é cada vez maior, e Motta precisará apresentar uma solução em pouco tempo.
A semana em Brasília foi marcada por várias reuniões paralelas sobre o tema. Enquanto os deputados que defendem um perdão geral para os envolvidos no 8 de Janeiro se aproximam das 257 assinaturas necessárias para o pedido de urgência, Motta e lideranças partidárias estudam uma saída "institucional", ou seja, construída junto aos demais Poderes.
Lula foi avisado sobre o crescimento do apoio ao projeto, mas até agora resiste a qualquer medida que envolva, por exemplo, um indulto aos presos, mesmo que parcialmente. A conversa também envolve ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), que avaliam a viabilidade de uma revisão das prisões em regime fechado.
A situação de Motta é ainda mais difícil porque, ao buscar uma candidatura de consenso para a presidência da Câmara, ele prometeu o que não poderia cumprir. Para uma parcela dos deputados, garantiu que apoiaria a anistia. Para outra ala, assegurou que iria engavetá-la.
Com a proximidade das eleições, os deputados estão de olho no interesse específico do seu eleitorado. Mesmo com os partidos na base do governo, vão considerar cada vez mais o que é necessário para a renovação do mandato. E o presidente da Câmara também precisará pensar nisso.