
A demissão do ministro das Comunicações, Juscelino Filho (União-MA), já estava acertada há muito tempo, e ocorre agora apenas para corroborar a justificativa do governo de que seria errado “julgar” alguém antes de uma eventual denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR). O presidente Lula repetiu várias vezes nos últimos meses que daria ao ministro o direito de se defender. O que ele buscava, contudo, era ganhar tempo enquanto o partido de Juscelino acertava internamente a substituição.
O loteamento de cargos na Esplanada funciona assim. Em troca de votos no Congresso, o partido decide quem irá indicar e quando a nomeação ocorrerá. Neste caso, decidiu até mesmo como deveria ocorrer a saída. Juscelino foi convencido a pedir demissão, tentando evitar exposição negativa também para o governo.
Nas discussões sobre troca de ministros nos últimos meses, pouco se falou no governo sobre os resultados que cada um apresenta. O Planalto está de olho na necessidade de estreitar relações com o Congresso, e isso exige fazer concessões a partidos dispostos a apoiarem temas de interesse do Executivo.
A cúpula do governo nunca teve dúvidas sobre a contundência das provas contra Juscelino, acusado de receber propina e desviar emendas parlamentares no mandato de deputado federal, ainda na legislatura passada. Por que a troca não ocorreu antes? Apenas para não desagradar ao União Brasil.
Denúncia
O envolvimento de Juscelino em irregularidades ocorreu na esteira do orçamento secreto criado no governo Jair Bolsonaro, segundo a Polícia Federal (PF). O ex-ministro é acusado de integrar uma organização criminosa que operava desvios da estatal Codevasf, em Vitorino Freire (MA). Neste caso, o esquema envolveria a irmã de Juscelino, Luanna Rezende, que foi prefeita do município.
A Controladoria-Geral da União (CGU) também identificou que a pavimentação de 80% de uma estrada bancada com dinheiro de emendas do deputado beneficiaria somente propriedades dele e de sua família.
Mesmo com a saída de Juscelino, a pasta responsável por políticas e serviços de radiodifusão, telecomunicações e postais do país continuará sob comando do União Brasil. A escolha do novo ministro caberá exclusivamente às lideranças do partido, e o mais cotado até agora é o deputado Pedro Lucas (União-MA).