
A programação da segunda semana do 21º Fantaspoa tem pelo menos 10 filmes que podem ser considerados imperdíveis.
E a seleção permite dar uma pequena volta ao mundo sem sair de Porto Alegre: tem títulos ambientados no Brasil, no Canadá, nos Estados Unidos, no Japão, na Irlanda, na Letônia...
Até o dia 27, o Festival Internacional de Cinema Fantástico de Porto Alegre vai exibir cem longas-metragens em cinco endereços da Capital: CineBancários, Cinemateca Capitólio, Instituto Ling, Sala Paulo Amorim e Sala Redenção da UFRGS.
10 filmes imperdíveis no Fantaspoa
Para conhecer todos os filmes, as datas, os horários e os locais das sessões, acesse o site fantaspoa.com.
1) Cagados de Medo (Canadá, 2024)

De Vivieno Caldinelli. Um encanador e seu filho germofóbico são forçados a sujar as mãos para salvar os moradores de um prédio quando uma criatura geneticamente modificada e sedenta por sangue escapa pelo sistema de encanamento.
Ainda não vi, mas acho impossível resistir a esse título e a essa sinopse.
Sessões na Cinemateca Capitólio, no dia 19, a partir das 23h (dentro da programação do Madrugadão Fantaspoa), e no dia 26, às 13h
2) Dead Mail (EUA, 2024)

De Joe DeBoer e Kyle McConaghy. Com personagens carismáticos, ainda que não necessariamente exemplares, é um filme de suspense absolutamente envolvente e surpreendente — se eu contar mais, estrago.
A história se passa nos anos 1980. Jasper (Tomas Boykin) é um funcionário dos Correios especialista em decifrar endereços ilegíveis em cartas e pacotes. Certo dia, ele depara com um papel ensanguentado que traz um pedido de socorro e que vai abrir um novo universo na trama: o da fabricação de sintetizadores musicais.
Sessões no CineBancários, dia 19, às 17h, e dia 25, às 15h
3) Um Fantasma (Irlanda, 2024)

De John Farrelly. Na Irlanda do século 19, Éamon (Tom Kerrisk) e sua filha, a jovem Máire (Livvy Hill), são contratados como cuidadores de uma mansão isolada durante os rigorosos meses de inverno. A tarefa logo vira um pesadelo.
Os diálogos em gaélico amplificam o clima sinistro deste filme que remete a dois títulos de Stanley Kubrick: o cenário, a situação e a rendição do pai à bebedeira lembram O Iluminado (1980), e a direção de fotografia, à exemplo de Barry Lyndon (1975), aposta na iluminação natural, incluindo a luz de velas.
Sessão na Cinemateca Capitólio, dia 16, às 16h30min (é a última no Fantaspoa)
4) Um Filme de Celular (EUA, 2025)

De Will Sterling. Filmada inteiramente com um celular, a comédia acompanha uma versão fictícia do diretor, roteirista e protagonista Will Sterling, um ator desempregado que tenta impressionar o mundo fazendo um filme com seu celular sobre um ator desempregado tentando impressionar o mundo fazendo um filme com seu celular.
Há um punhado de piadas que devem funcionar bem junto a espectadores que adoram os bastidores do cinema.
Sessão na Cinemateca Capitólio, dia 15, às 14h45min (é a última no Fantaspoa)
5) Garota América (República Tcheca, 2024)

De Viktor Tauš. Dedicado às "dezenas de milhares de crianças que cresceram em orfanatos na Tchecoslováquia comunista", é um drama fantástico tão colorido e exuberante quanto amargo e melancólico.
A personagem principal, Emma, narra suas memórias. Ela cresceu sem pai e com uma mãe alcoolista que negligencia a criação da menina e de seus irmãos — um é adolescente, e o outro, bem pequeno. Emma passar por um orfanato, por um lar adotivo e por um reformatório, se agarrando à esperança de que seu pai está aguardando por ela nos Estados Unidos.
Sessões na Cinemateca Capitólio, dia 16, às 20h30min (com a presença do cineasta), e dia 19, às 13h
6) Lótus (Letônia/Lituânia, 2024)

De Signe Birkova. Em atuação encantadora, Severija Janusauskaite encarna Alice von Trotta, que retorna à decadentíssima mansão de seu pai na Letônia de 1919 para vendê-la e começar uma nova vida. Mas ela enfrenta a resistência da governanta e de outros dois empregados, que estão à procura do ouro da família. Aos poucos, Alice também se envolve com um advogado metido a etnólogo e cinéfilo — o que vai levá-la a conhecer a mefistofélica Madame Falstaff, que quer usar os talentos artísticos da protagonista para criar um filme de propaganda.
Além de oferecer uma trama que jamais provoca déjà vu, ainda que por vezes careça de foco narrativo, Lótus se destaca por seu visual. A diretora Signe Birkova filmou algumas cenas com uma câmera centenária e homenageia o surrealismo, o Expressionismo Alemão, Méliès (1861-1938) e até Hitchcock (1899-1980). Aliás, o filme é uma grande declaração de amor ao cinema e a seu poder junto à sociedade.
Sessão na Cinemateca Capitólio, dia 17, às 18h15min (é a última no Fantaspoa)
7) O Mosqueteiro Solitário (Reino Unido/Alemanha, 2024)

De Nicolai Schumann. Coadjuvante em séries como Taboo (2017), Pennyworth (2019-2022) e Os Irregulares de Baker Street (2021), o ator inglês Edward Hogg tem aqui o grande papel de sua carreira. Para começo de conversa, é praticamente só ele que aparece em cena nos 95 minutos de duração deste suspense em preto e branco. Seu personagem, Rupert, é um magnata do mercado financeiro que acorda trancado em um lugar sem portas nem janelas — com exceção de uma fresta onde seus olhos não alcançam.
Rupert não faz ideia de como foi parar ali, e tudo o que tem é um celular antigo. O protagonista, então, passa a usar o aparelho para tentar se lembrar de seus passos anteriores e investigar quem pode estar por trás dessa brincadeira de mau gosto ou, pior, de seu sequestro. Entrementes, vasculha as sombras de suas próprias memórias.
O Mosqueteiro Solitário é absolutamente intrigante na narrativa — ficamos ávidos por novas pistas e revelações — e absolutamente esplêndido na forma. Schumann, o diretor de fotografia Bruce Jackson e o editor Top Tarasin jamais deixam o cenário ou a trama se tornarem monótonos. A equipe está sempre explorando ângulos nesse confinamento de quatro paredes, usando a luz para gerar impacto ou traduzir sentimentos, aproximando ou afastando a câmera do personagem. Hogg, por sua vez, jamais deixa a peteca cair e faz do seu rosto uma montanha-russa de emoções.
Sessões na Cinemateca Capitólio, dia 20, às 20h30min (com presença do diretor de fotografia Bruce Jackson), e dia 22, às 16h30min
8) O Peixe-Dourado Assassino (Japão, 2024)

De Yukihiko Tsutsumi. Uma investigadora paranormal (Erika Oka) se enreda em um caso de vingança ligado à história da humanidade ao deparar com uma série de assassinatos cometidos por peixes-dourados.
João Pedro Fleck, que dirige o Fantaspoa com Nicolas Tonsho e João Pedro Teixeira, recomenda muito o filme japonês: "É um dos títulos mais inventivos do festival em 2025. A trama inusitada percorre caminhos raramente vistos — e estamos falando de Fantaspoa! Imperdível para quem quer assistir uma insanidade que inclui viagens no tempo, peixes assassinos, estética linda e muita diversão".
Sessões na Cinemateca Capitólio, dia 18, às 14h45min, e dia 27, às 16h30min
9) Sob o Domínio (Brasil, 2025)

De Julio Cesar Napoli. Trata-se de uma das 11 estreias mundiais no Fantaspoa 2025. A personagem principal é uma psicóloga, Cris, interpretada com despudor por Raquel Monteiro, atriz que fez um pequeno papel na série Os Outros (2022). Na cena de abertura, a protagonista está ouvindo o relato de um paciente, o padre Paulo (João Santucci, cativante no papel), que, na infância, queria ser policial, mas não pensou nos horrores que teria de ver.
Aí, ele conta sobre um bebê decapitado encontrado na praia, diz que aquilo não sai da sua mente e que, de alguma forma, se sente responsável por aquela morte chocante. Quando Cris pergunta se o Mal é uma coisa feita pelas pessoas ou se existe algo além, o padre retruca: afirma que demônios são somente metáforas criadas por religiões diversas para se comunicar com as pessoas. Faz-se um silêncio, e então Paulo revela: "Mas, de uns tempos pra cá, eu tenho ficado com medo. Medo de que talvez eu esteja errado".
O diretor e roteirista carioca Napoli já havia participado do Fantaspoa com o curta Pique-Esconde Macabro, da Antologia da Pandemia, em 2020, e com seu primeiro longa, A Última Casa no Topo da Colina, em 2024. Em Sob o Domínio, ele divide com Gabriel Papaléo a produção e a direção de fotografia e também assina a edição, a maquiagem, os efeitos visuais, o desenho e a mixagem de som. Com apenas R$ 3 mil, fez um filme fascinante sobre possessão, ceticismo, hipocrisia e tentação, com direito a momentos genuinamente sinistros.
Sessões na Sala Paulo Amorim, dia 16, às 19h30min (com a presença do diretor), e dia 22, às 17h30min
10) Trizombie (Bélgica, 2024)

De Bob Colaers. Na trama, só as pessoas com síndrome de Down escaparam de um vírus que transformou a população da Terra em zumbis.
Também acho impossível resistir ao título e à sinopse desta outra atração do Madrugadão Fantaspoa.
Sessões na Cinemateca Capitólio, no dia 19, a partir das 23h, e no dia 22, às 14h45min
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