
Uma menina de oito anos morreu após inalar gás de um desodorante aerossol, de acordo com a Polícia Civil do Distrito Federal. A criança, identificada como Sarah Raissa Pereira de Castro, realizava o chamado "desafio do desodorante", veiculado em redes sociais.
Um inquérito foi aberto no domingo (13), por meio da 15ª Delegacia de Polícia, para apurar as circunstâncias envolvendo a morte, ocorrida no sábado. Ela foi enterrada na tarde desta segunda (14).
A polícia investiga como a criança teve acesso ao conteúdo do desafio e tenta identificar quem são os responsáveis por sua publicação.
Parada cardiorrespiratória
A criança deu entrada no Hospital Regional de Ceilândia, em Brasília, após inalar o gás do desodorante. Médicos tentaram reanimá-la por 60 minutos.
— O episódio resultou em uma parada cardiorrespiratória, sendo a vítima reanimada após cerca de 60 minutos, porém sem apresentar reflexos neurológicos, o que culminou na constatação de morte cerebral — disse a Polícia Civil do Distrito Federal.
Após o registro do óbito, a família registrou a ocorrência policial.
"A depender das circunstâncias apuradas, os envolvidos poderão responder por homicídio duplamente qualificado (por emprego de meio capaz de causar perigo comum e por se tratar de vítima menor de 14 anos), crime cuja pena pode chegar a 30 anos de reclusão", disse a polícia.
Familiares de Sarah Raissa abriram uma campanha de arrecadação online para pagar os custos do velório. De acordo com a tia da menina, Kelly Luane a meta já foi alcançada.
Outros casos
É mais um caso de óbito no Brasil por conta desse tipo de conteúdo. Em março, uma menina de 11 anos sofreu uma parada cardiorrespiratória em uma cidade no interior do Pernambuco depois de inalar desodorante aerossol.
Vídeos ensinando como "baforar" o produto para provocar desmaios são disseminados virtualmente por jovens, em especial no TikTok. À época, por meio de nota, a rede social disse que os vídeos foram "enviados para análise e removidos" da plataforma por infringirem as Diretrizes da Comunidade.
Em agosto de 2024, um menino de 12 anos da Inglaterra sofreu uma parada cardíaca após inalar uma lata de desodorante. Ele só sobreviveu por ter sido encontrado pela mãe a tempo, segundo o Daily Mail.
Em dezembro de 2018, um adolescente de 13 anos morreu em Alvorada, na Região Metropolitana, em circunstancias parecidas. Familiares contaram à Polícia Civil que o menino — que faria 14 anos dias após sua morte — participou de uma competição de quanto tempo ele aguentaria inalar desodorante aerossol.
Em 2018 um caso semelhante, a morte da menina Adrielly Gonçalves, sete anos, em São Bernardo do Campo (SP), ascendeu um debate nacional sobre o "desafio".
"Jogos perigosos"
Desde 2019, a Organização Mundial da Saúde (OMS) tem considerado os "jogos perigosos" (hazardous games, em inglês) como um distúrbio comportamental listado na Classificação Internacional de Doenças (CID).
Os "jogos perigosos" são definidos pela OMS como "um padrão de jogatina, online ou offline, que aumenta sensivelmente o risco de consequências prejudiciais à saúde mental ou física" de um indivíduo.
O perigo pode se manifestar tanto pelo excesso do tempo gasto com a "brincadeira" quanto pelos "comportamentos e consequências de risco" associados diretamente às regras do jogo. No caso do "desafio do desodorante", por exemplo, os participantes são incentivados a inalar aerossóis impróprios para o consumo humano.
Conteúdo proibido pelo TikTok
O Estadão apurou que vídeos circulam no TikTok como um desafio, ensinando e incentivando jovens a inalar desodorante para provocar desmaios. Segundo a plataforma, ferem as diretrizes da comunidade:
- mostrar atividade que envolva danos físicos moderados visíveis ou iminentes ou promover atividade que possa levar a danos físicos moderados;
- mostrar atividade que provavelmente será imitada e que pode levar a qualquer dano físico.