Timing é tudo na política, e o momento não poderia ser pior para o governo Lula levar adiante propostas de regulamentação das redes sociais. Além da crise interna que combina alta de preços e queda de popularidade, o petista está diante de um fortalecimento inédito das big techs na arrancada do governo Donald Trump. Não se trata de ignorar a necessidade de regras para este mercado, mas de reavaliar internamente a forma como o debate precisa ocorrer.
Em poucos anos, redes sociais e aplicativos de mensagens se tornaram muito mais do que ferramentas de comunicação. A economia do Brasil gira em boa parte com o intermédio das redes digitais. O peso destas plataformas na vida da população impõe um debate amplo sobre mudanças, que não pode ser conduzido apenas por órgãos do Executivo, muito menos pela interpretação de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).
Além do peso político de qualquer imposição de regras, Lula dará um tiro no pé se não envolver o Congresso no debate. Os deputados e senadores precisam participar da solução. Não apenas para dar legitimidade à iniciativa, mas para garantir o peso político necessário ao Brasil para negociar com grupos econômicos poderosos, e agora fortalecidos politicamente.
A disputa ideológica contaminou o debate nos últimos anos, impedindo o mínimo de consenso entre os parlamentares. O cenário reforça o potencial de uma decisão individual gerar enorme desgaste ao governo ou ao Judiciário. Não se pode chegar ao ponto, mais uma vez, de uma decisão judicial bloquear uma plataforma relevante para a economia e a vida de milhares de pessoas, a exemplo do que ocorreu com o X (ex-Twitter) no ano passado.
O timing político de Lula, que já foi considerado uma de suas grandes virtudes, será mais uma vez colocado à prova. E se ele seguir a lógica de usuário das redes, de bradar sua vontade sem ouvir o contraditório, correrá sério risco de perder seguidores.