O jornalista Anderson Aires colabora com a colunista Marta Sfredo, titular deste espaço.
Prestes a anunciar a liberação do FGTS para demitidos que usaram o saque-aniversário, o governo federal acelera as ações no âmbito social e na busca por popularidade, mas abre espaço para ruído com alguns setores econômicos. A decisão, em um primeiro momento, deve repercutir em aquecimento da atividade. No entanto, pode embaraçar o combate à inflação, o crédito e os financiamentos.
A liberação do saque deve injetar bilhões de reais nas mãos dos trabalhadores, que vivem em um ambiente com renda corroída pela alta nos preços de itens básicos, e ativar a economia — que já vem crescendo acima do esperado.
De um lado, esse movimento ajuda a imagem do governo junto a uma parte da população e fomenta, mesmo que pontualmente, o avanço de algumas cadeias ligadas aos setores de comércio e serviços.
Do outro, aumenta o risco de problemas no médio e longo prazo. Com aceleração no consumo, a tendência é de rebote nos preços. E inflação mais alta no horizonte reforça a postura vigilante do Banco Central, que tende a não reduzir o juro. Com juro alto por mais tempo, investimentos e acesso ao crédito seguem travados no país.
Impasse
Portanto, o governo federal fica no meio de um impasse, onde vê a necessidade de abrir a torneira de recursos, mas também sinalizar responsabilidade fiscal e comprometimento na luta contra a inflação.
Soma-se a isso a preocupação sobre o impacto do aumento de saques do FGTS no funding imobiliário, que já está limitado diante do esgotamento da poupança. O setor da construção civil teme que um avanço nas retiradas do FGTS pressione ainda mais os financiamentos.
Desde o fim de 2024, a Caixa e outros bancos vêm restringindo o acesso ao crédito imobiliário diante da falta de recursos, com aumento de taxas e aumento no valor de entrada. Agora, esse cenário fica ainda mais nebuloso com as incertezas sobre o tamanho do impacto nas fontes de recursos.
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