Muito antes de Donald Trump vencer a eleição para a presidência dos Estados Unidos, o mercado internacional de aço já vivia em tensão. A decisão de Trump de taxar em 25% todas as importações de aço e alumínio de seu país agravou o quadro, especialmente com uma acusação específica ao Brasil.
Tudo começou na China. O gigante asiático, que crescia a dois dígitos em tempos áureos, enfrentou forte desaceleração e uma crise no segmento de construção civil – acentuada pela quebra da Evergrande. Como a indústria siderúrgica chinesa estava dimensionada para forte crescimento e mercado imobiliário pujante – que já não existiam –, passou a ter excedente de produção.
Para não ficar com alta ociosidade nem estocar quantidades enormes, a China passou a vender aço no mercado internacional a preços baixos. O Brasil foi um dos países afetados, com a indústria nacional apontando "invasão" ainda em 2023. Depois de repetidas queixas e ameaças de demissão no setor, o governo adotou medidas cautelosas de proteção comercial.
Na época, o governo Lula adotou uma sobretaxa também de 25% para o aço chinês, com um detalhe: seria aplicada apenas quando a importação atingisse determinada quantidade (cota) para cada tipo de produto. Conforme o setor, não deu o resultado esperado.
Mesmo a Gerdau, que produz nos Estados Unidos, logo tem proteção relativa ao protecionismo de Trump, vê a adoção de tarifas como um risco de gerar ainda mais excedente de aço no mundo, o que também afetaria seus negócios. E seu CEO, Gustavo Werneck, já alertava em dezembro passado:
– É fundamental que o governo federal seja célere agora, porque o mecanismo de defesa comercial mista, por meio de cotas, não tem trazido os resultados esperados e precisa ser reformado.
Nada foi feito, e veio o tarifaço de Trump que deve entrar em vigor em 12 de março. Com o agravante da acusação de "circunvenção" ao Brasil. Nas normas do comércio internacional – é até curioso que a Casa Branca de Trump cite regras quando quebra todas – isso ocorre quando um país serve de intermediário para permitir a entrada de um produto que, se não fizesse essa "escala", seria barrado.
Traduzindo e resumindo, a acusação é de que o Brasil estaria reexportando aos EUA o aço chinês que entra aqui. É por isso que, na nota sobre o tarifaço, o Instituto Aço Brasil, que representa o setor, nega a alegação americana com veemência: "inexiste qualquer possibilidade de ocorrer". E em um momento em que o governo brasileiro estuda qual a melhor reação a Trump, não deixou de lembrar que o Brasil "vem sendo assolado pelo aumento expressivo de importações de países que praticam concorrência predatória, especialmente a China".