O dólar fechou abaixo de R$ 6 pelo segundo dia seguido, e brasileiros já sonham com a volta a patamares mais amenos. Nesta quinta-feira (23), a cotação chegou a cair forte, mas encerrou o dia em R$ 5,926, de volta à variação para baixo de 0,34% ante a véspera.
Como na véspera, a queda é atribuída a Donald Trump. Desta vez, não por omissão – a falta de anúncio de aumento de tarifas – mas por palavras. Em participação online no Fórum Econômico Mundial, em Davos, ele disse que vai pedir ao Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) para baixar os juros "de imediato". Pouco depois, o dólar alcançou a mínima do dia, em R$ 5,878, com queda superior a 1%. Mas não durou.
O entusiasmo pode ter sido limitado por que o mercado sabe que o Fed, como o Banco Central nacional, é independente. Até fez uma "fezinha" na capacidade de pressão de Trump, mas acabou percebendo o excesso de entusiasmo.
No final de 2024, dois fatores se combinaram para levar o dólar a R$ 6 e além: a expectativa de vitória de Trump e a crise de credibilidade da política fiscal do governo Lula. Uma das principais fontes de pressão cambial era a ameaça de Trump de elevar tarifas (impostos de importação) para entrada de produtos estrangeiros nos Estados Unidos. Como nada ocorreu até agora, esse fator está saindo de cenário.
A causa interna – a percepção de risco fiscal do Brasil – continua presente, o que limita as projeções de queda do real. Cristiano Oliveira, economista-chefe do banco Pine, avalia que houve "exagero" no efeito-manada do ano passado:
— Não quer dizer que o mercado não estava certo ao aumentar a percepção de risco fiscal. O mercado serve para isso, para colocar preço na incerteza. Mas houve exagero, com depreciação do real muito além da piora nos fundamentos.