A gravidade dos fatos narrados na denúncia oferecida pela PGR ao STF na última semana fez inundar os noticiários com informações relacionadas ao tema. Além de apontar o envolvimento de Jair Bolsonaro com a tentativa de golpe de Estado, a acusação conectou o ex-presidente aos ataques do 8 de janeiro e mencionou a ciência dele sobre o plano que previa assassinar o presidente Lula. Gravíssimo.
Acompanhar as anulações de provas é de enlouquecer
Eis que, enquanto todos os olhares ainda se concentravam sobre a trama, surge uma canetada. Era quarta-feira, 19 de fevereiro, quando o ministro Dias Toffoli, do STF, anulou todas as provas coletadas pela Operação Lava-Jato contra o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci. Repito: todas as provas caíram por terra, mediante uma única penada.
Antes de mais nada vale lembrar que o desmonte da Lava-Jato se deve ao conluio praticado por procuradores e juiz do caso, com evidente desrespeito ao processo penal. Houve desprezo pelas normas justamente por quem posou de herói nacional a fim de se beneficiar eleitoralmente. Não é pouco.
Registradas as condutas equivocadas, foquemos então a desgraça que se abate por séculos em nossas terras tupiniquins: a impunidade. Acompanhar as anulações de provas – muitas vezes confissões feitas pelos próprios acusados – é de enlouquecer. Se você tiver estômago, assista ao vídeo publicado pelo ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral, dando indicações de filmes para seus seguidores, enquanto curte uma tarde na piscina em sua cobertura – com o Cristo Redentor ao fundo e a vista da Lagoa Rodrigo de Freitas, diga-se de passagem.
Repito, é de enlouquecer.
Por isso, resgato o tema inicial proposto por essa coluna, quanto à denúncia apresentada pela PGR. É imperativa a necessidade de rigor, de isenção e de respeito absoluto às regras jurídicas quanto à investigação que apura a tentativa de golpe de Estado. Afobamentos e descumprimento das normas – ou mesmo contaminação político-eleitoral – apenas favorecerão eventuais golpistas, que mais tarde poderão requerer a anulação dos processos. O risco é que daqui a alguns anos vejamos os responsáveis não apenas soltos, mas tomando vinho na piscina, rindo da cara de quem achou que a impunidade havia chegado ao fim.