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Já ocorreram duas reuniões de emergência entre líderes europeus e uma só entre Estados Unidos e Rússia – sem participação da maior interessada – para definir o futuro da Ucrânia. O mundo acompanha entre atônito e animado (sim, tem quem) o que o presidente dos EUA, Donald Trump chama de "negociações de paz", mas estão mais para a primeira palavra do que para a segunda.
Trump exige da Ucrânia não apenas 50% dos rendimentos do país com a exploração de recursos naturais. Seria uma cifra absurda, embora incalculável, porque a estimativa do valor dessas reservas vai de US$ 15 trilhões a US$ 150 trilhões.
Cobra ainda US$ 500 bilhões exigindo a propriedade de jazidas de terras raras, minerais usados nas indústrias de defesa e tecnologia. O "argumento" é de que seriam uma indenização pelos gastos americanos no apoio à guerra.
Segundo o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelensky, Washington forneceu ao seu país US$ 67 bilhões em armas e US$ 31,5 bilhões em recursos durante a guerra de quase três anos com a Rússia. Seriam US$ 98,5 bilhões. Só com as terras-raras, a "pedida" de Trump é cinco vezes maior.
— Não se pode chamar isso de US$ 500 bilhões e nos pedir para 'devolver' US$ 500 bilhões em minerais ou outra coisa. Não é conversa séria — disse Zelensky.
Para entender, é crucial saber que, hoje, a China responde por cerca de 60% da produção mundial de terras raras, com 90% da capacidade global de separação e refino desses materiais. Zelensky dá sinais que que aceita negociações e negócios, desde que em condições razoáveis:
— Defendo a Ucrânia, não posso vender nosso país. Eu disse 'ok, nos dê algo positivo, vocês nos dão algum tipo de garantia, e nós escreveremos um memorando'.
Apesar da resistência de Zelinsky, nesta sexta-feira (21) a Casa Branca informou que o acordo envolvendo minérios e Ucrânia será assinado "em poucas horas". Na versão trumpiana de paz, o país também teria de aceitar perder cerca de 20% de seu território – inclusive áreas que concentram jazidas – para a Rússia.
— O presidente Zelensky vai assinar o acordo em breve. E isso é bom para a Ucrânia — afirmou o conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, Michael Waltz.
*Colaborou João Pedro Cecchini